Entrevista | Fernanda Takai

Texto publicado originalmente no site Scream & Yell em 18/05/2008.



Ela é fofa, gentil e talentosa. E alcançou alguns êxitos durante sua carreira que muito artista sonha conseguir: faz parte de uma das bandas mais legais e respeitadas do país, tanto no cenário independente como no mainstream, e ao lançar seu primeiro trabalho solo, composto por regravações, saiu ilesa das críticas especializadas (que raramente costumam dar crédito para obras que homenageiam outros artistas), realizando uma ótima turnê, em que cativa o público com sua voz doce e seu “carisma contido”.

Fernanda Takai, vocalista do grupo mineiro Pato Fu, continua se apresentando com os shows da tour Onde Brilhem Os Olhos Seus, do CD cujo repertório tem “apenas” canções interpretadas por Nara Leão. No palco, ela é acompanhada pelos companheiros de banda Lulu Camargo (teclados) e John Ulhoa (”violão, guitarra e marido"), mais Thiago Braga (baixista do LAB) e Mariá Portugal (bateria e zabumba, integrante das bandas Trash Pour 4 e Dona Zica). Mas a cantora também mantém as apresentações com a banda e ainda divulga seu primeiro livro “Nunca Subestime uma Mulherzinha”, composto por contos e crônicas autobiográficos.

Entre esses vários compromissos, Fernanda, sempre atenciosa, concedeu uma entrevista exclusiva, e falou da concepção do projeto solo, sobre os elogios recebidos pela imprensa especializada, se declarou fã de bandas dos anos 1980, alentou para a possibilidade do lançamento de um DVD desse show, e para quem pode achar que seu trabalho com o Pato Fu possa ter atingido o limite, afirmou: "O Pato Fu ainda me representa muito bem artisticamente”. A seguir, o papo completo.

Por que a Nara Leão? Você era fã dela? Como surgiu a idéia de gravar o CD?

Quando o Nelson (Motta) me contou da idéia dele, não sabia que eu tinha alguns discos da Nara em casa e a escutava desde muito pequena, por causa de meus pais. Eu canto desse jeito por causa de vozes como a da Nara. Cantoras que usam a voz ao pé do ouvido. Não só as daqui, mas muita gente de fora que foi influenciado pela bossa nova, como a Suzanne Vega, a Tracey Thorn... No início achei que um álbum solo fosse complicar a minha vida no Pato Fu, mas o que aconteceu é que aos 15 anos de carreira consegui ampliar ainda mais o meu público. Fizemos o disco simultaneamente ao nono CD do Pato Fu. Tudo independente, sem selo, sem patrocínio, nem qualquer pressão.

Geralmente, artistas contemporâneos que se arriscam a criarem novas versões para músicas antigas recebem críticas negativas, isso quando não são acusados de crise de criatividade. No seu caso, o disco é belo, bem produzido e você recebeu elogios da crítica. Como você interpreta esses elogios? Se lembra de algum caso parecido na música brasileira, de alguém que gravou um disco só com canções de outro artista e foi elogiado?

Isso é verdade. Corremos esse risco. Fiquei muito surpresa com essa quase unanimidade positiva. Acredito que isso tudo aconteceu porque não tivemos preguiça em retrabalhar cada música com muito critério e também não tivemos medo de colocar o nosso próprio jeito em cada arranjo e interpretação. É um disco dedicado à Nara, mas é um disco meu.

Nos shows você tem tocado músicas do Duran Duran e do Eurythmics, duas bandas que fizeram sucesso nos anos 80. Você é fã da música feita naquela década? Cite suas bandas preferidas.

Sim, muito fã. Essas duas são algumas de minhas preferidas, assim como The Cure, EBTG, New Order, The Smiths... Rock inglês foi algo que ouvi muito! Não é à toa que no disco recente do Pato Fu tem uma versão de "Cities In Dust" (Siouxsie and the Banshees) também.

Quando entrevistei você dois anos atrás você disse: "Quando eu quiser fazer algo solo, é porque o Pato Fu deixou de me atender musicalmente falando". Você pretende realizar outros trabalhos solo?

Isso acabou não acontecendo. O Pato Fu ainda me representa muito bem artisticamente. Eu acabei me rendendo à idéia do Nelson, sem parar a banda, porque todos os outros integrantes tem projetos musicais paralelos e a gente continua bem. Só eu tinha esse pudor. Aí pensei que talvez o Pato Fu vá durar muito mais do que se pensa e eu ficaria restrita a esse universo que temos. Por isso disse sim e tudo aconteceu de uma forma muito bacana. Devo fazer outros trabalhos solo sim, só não sei quando, nem com que conteúdo.

Os fãs pedem pra você tocar músicas do Pato Fu nos shows solo? Ainda mais com o John como um dos músicos que a acompanham?

Pedem, mas não toco. São dois shows diferentes. É preciso respeitar esse limite, do contrário iria ficar muito confuso.

Quais os planos para o resto do ano?

Estou em duas turnês: solo e com a banda. Tenho divulgado muito meu livro também. Devo produzir um DVD desse show meu. Ainda estamos no começo do planejamento dele.

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