Se alguém consegue reunir, em um filme, dezenas de grandes atores internacionalmente reconhecidos, esse sujeito deve ter algo diferente. E se esse filme é independente, sem o orçamento de um blockbuster, e ainda assim atrai dezenas de astros e estrelas, é por que o cara tem algo especial. Estamos falando de O Grande Hotel Budapeste e Wes Anderson. Não à toa, bateu o recorde de bilheteria para um filme de circuito restrito em seu primeiro fim de semana nos EUA, em março: fez nada menos que US$ 800 mil em quatro salas, superando os US$ 736 mil O Mestre, de Paul Thomas Anderson, em 2012. Woody Allen deve ter ficado com inveja. Imagine reunir Ralph Fiennes, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jude Law, Saoirse Ronan, Léa Seydoux (Azul é a Cor Mais Quente), Mathieu Amalric, Jeff Goldblum (Independence Day), Harvey Keitel, Edward Norton, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Owen Wilson, Tom Wilkinson e Bill Murray. Artistas que não devem ter pensado duas vezes em aceitar o convite – vários já trabalharam para o diretor. Afinal, trata-se de um dos melhores lançamentos de 2014; inteligente, tecnicamente impecável, mordaz e envolvente.
Somos apresentados ao autor de um livro, Tom Wilkinson. Décadas antes, o escritor (encarnado por Jude Law na juventude) conheceu Mr. Moustafa (F. Murray Abraham, de Amadeus), que lhe conta como virou dono do famoso hotel que batiza a história. Quando novo (interpretado pela boa revelação Tony Revolori), Moustafa era chamado por Zero e foi assistente e protegido do concierge M. Gustave (Fiennes). Daí em diante, conferimos a jornada que passa pela disputada de herança em uma tradicional família, o primeiro amor, roubo e recuperação de uma pintura renascentista, etc. Flaskback dentro de um flaskback dentro de outro flaskback. Em sequências ligeiras, espertas, com a câmera acompanhando pessoas saindo e entrando, subindo e descendo escadas. Confuso de seguir? Jamais. O diretor e seu roteirista parceiro Hugo Guinness nos prendem desde a primeira cena e nos levam pelas mãos a cada sala, vagão, fuga, perseguição. Mérito igual da montagem certeira de Barney Pilling.
O longa se desenvolve deliciosamente implacável. Há humor. Ora pastelão, ora ironia fina, mas que vai se tornando cada vez mais denso até nos dar nós na garganta. O colega Rubens Ewald Filho lembrou das aventuras de Tintim. É parte isso. Pois há o tom de fábula, fantasia. Anderson coloca seus personagens para percorrerem prédios, museus e cidades belos, exóticos, misteriosos. Um tipo de beleza decadente. Ou de decadência bela, enfim. Encantamento que nos arrebata. Faz querermos conhecer cada lugar. Foi assim em Viagem a Darjeeling (2007). Aqui, tudo se intensifica. Das atuações, especialmente dos protagonistas Fiennes e o novato Revolori (hilário em suas feições minimalistas), à linda fotografia de Robert D. Yeoman, parceiro do cineasta há anos, passando pela trilha sonora complementar do premiado Alexandre Desplat, até figurinos e direção de arte precisos e preciosos. É o tipo de obra cinematográfica que dificilmente desagrada críticos. Só que envolve e agrada o espectador. É exemplo de trabalho que vai crescendo com o boca a boca merecido. Acima de tudo, O Grande Hotel Budapeste é um tratado sobre gerações, legados e o tempo. Não perca mais um minuto para assisti-lo.
Título no Brasil: O Grande Hotel Budapeste.
Título original: The Grand Budapest Hotel
Ano de lançamento: 2014
País de produção: Estados Unidos e Alemanha
Diretor: Wes Anderson
Roteirista: Wes Anderson (roteiro), Stefan Zweig (história)
Editor: Barney Pilling
Diretor de Arte: Adam Stockhausen
Figurinista: Milena Canonero
Trilha sonora: Alexandre Desplat
Elenco: Ralph Fiennes (Monsieur Gustave H.), Tony Revolori (Zero Moustafa), F. Murray Abraham (Sr. Moustafa), Adrien Brody (Dmitri Desgoffe-und-Taxis), Willem Dafoe (J.G. Jopling), Jeff Goldblum (Deputy Kovacs), Saoirse Ronan (Agatha), Tilda Swinton (Madame D.), Jude Law (The Author), Bill Murray (M. Ivan), Edward Norton (Henckels), Harvey Keitel (Ludwig), Tom Wilkinson (The Author, mais velho), Owen Wilson (M. Chuck), Jason Schwartzman (M. Jean), Léa Seydoux (Clotilde), Mathieu Amalric (Serge X.).
Duração: 99 minutos
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