A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan, 2016), de David Yates

 


por André Azenha

Muhammad Ali, pugilista tricampeão mundial, mito, ícone de engajamento social, falecido em 3 de junho deste ano, costumava questionar: Por que Tarzan, o rei da selva, na África, era branco?

As motivações que levaram o escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs à concepção do herói dessa maneira talvez – repito, talvez - seja compreensível: fruto de um mundo recém-saído da escravidão, onde o homem-branco era o herói que civilizava territórios “selvagens”.

O que não dá para compreender é que, em pleno 2016, com todos os debates e avanços referentes ao tema diversidade, um filme como “A Lenda de Tarzan” apresente uma história assim.

Década de 30. Tarzan (Alexander Skarsgård) deixou a África. Virou John Clayton III, o Lorde Greystoke, e vive confortavelmente em Londres ao lado da amada Jane (Margot Robbie). Retorna ao Congo no papel de emissário britânico. Lá se depara com antigos amigos e um explorador (Christoph Waltz) que pretende tomar o país e escravizar a população local.

Ao abordar a exploração social, o filme acaba vítima daquilo que tenta criticar: cabe a Tarzan, o homem branco, europeu, loiro de olhos claros, salvar o dia. Algo mais ou menos ao mostrado em “Histórias Cruzadas” (2011), drama no qual Emma Stone é a jovem branca que liberta as mulheres negras da alta sociedade numa cidadezinha dos EUA. O objetivo aqui não é generalizar. Porém é preciso levantar a discussão a respeito de filmes hollywoodianos que insistem numa visão ultrapassada.

O longa ainda é prejudicado pela falta de carisma do ator principal (os olhares dos animais produzidos por computação gráfica transmitem mais emoção), um vilão caricato e já visto recentemente (Waltz repete os trejeitos de “Bastardos Inglórios” e “007 Contra Spectre”) e efeitos visuais irregulares. Enquanto em algumas cenas ficamos deslumbrados, em outras é nítida a criação via CGI. Basta ver “O Planeta dos Macacos”. Resta a Samuel L. Jackson e Margot Robbie (a Arlequina do vindouro “Esquadrão Suicida”) tentar equilibrar as coisas. Ele, sempre competente, é um coadjuvante de luxo. Já a atriz tem pouco a fazer no papel de donzela em perigo.

Ficha técnica: 

Título no Brasil: A Lenda de Tarzan
Título original: The Legend of Tarzan
Ano de lançamento: 2016
País de produção: Estados Unidos
Diretor: David Yates
Roteiristas: Adam Cozad e Craig Brewer
Diretor de fotografia: Henry Braham
Editor: Mark Day
Trilha sonora: Rupert Gregson-Williams
Tempo de duração: 110 minutos

Elenco:
- Alexander Skarsgård (John Clayton / Tarzan)
- Margot Robbie (Jane Porter)
- Samuel L. Jackson (George Washington Williams)
- Christoph Waltz (Capitão Léon Rom)
- Djimon Hounsou (Chefe Mbonga)
- Jim Broadbent (Primeiro Ministro)
- Casper Crump (Major Kerckhover)

Indicado ao Oscar de Melhor Efeitos Visuais em 2017.


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