Orçado em US$ 17 milhões, pouco para Hollywood, Um Lugar Silencioso abriu com US$ 50 milhões ao redor do mundo e aproxima-se de duplicar a marca. Bilheteria, obviamente, não significa qualidade. Mas aqui é jogo sério e raras vezes ficamos tensos do início ao fim, sem pausas para respirar, piscar, pegar a pipoca ou o refri.
John Krasinski, a quem acostumamos ver principalmente em comédias e comédias românticas, assina roteiro, direção e produção executiva. Surpresa extremamente positiva. Parece veterano. Tem no currículo poucos trabalhos na função, como alguns episódios da série The Office, que estrelava. Entende as ferramentas que fazem o bom cinema: diálogos nem sempre são necessários para envolver e gerar reações no público. O mestre dos mestres, Stanley Kubrick, nos mostrou isso.
Algo aconteceu à humanidade. Criaturas de outro mundo perseguem e matam as pessoas com extrema velocidade. Cegas, são guiadas pelo barulho. Os sobreviventes do planeta precisam ficar em silêncio. Famílias passam a viver de maneira simples, rudimentar. Caçam, buscam o próprio alimento. Conhecemos os Abbott. Lee e Evelyn, pai e mãe, respectivamente interpretados por Krasinski e sua esposa na vida real, Emily Blunt.
O casal tem três filhos. Até uma tragédia abalá-los. Vivem numa fazenda. Quando saem, vão em fileira indiana. O homem à frente, seguido pela mulher e os filhos, enfileirados por ordem de idade. Como algumas espécies costumam fazer para evitar riscos, ataques, etc.
À frente do projeto extremamente pessoal, Krasinski confiou no próprio taco e apresenta um dos melhores suspenses do cinema recente. A ideia de criaturas que não enxergam e atacam a partir de outros sentidos não é original. Vimos algo parecido no bom Abismo do Medo (2005). Naquele, a simples respiração era motivo de extremo perigo. Em Um Lugar Silencioso descobrimos algumas regras. O diretor, no entanto, manipula bem as situações, que vão num crescendo até chegar ao ápice numa cena dentro de uma banheira: provavelmente a mais aterrorizante dos últimos tempos. Muitas raras vezes fechei os olhos e me amedrontei de tal forma em frente à tela. Na verdade foi misto de medo, aflição, receio pela vida dos personagens.
Mérito igual da atuação de Emily Blunt, das atrizes mais versáteis do momento, do drama à ação e à comédia – será, no final de 2018, a nova Mary Poppins da Disney, substituindo ninguém menos que o mito Julie Andrews. Krasinski comprova, ainda, ser um ator diversificado. Os intérpretes mirins não ficam atrás, especialmente Millicent Simmonds, a filha adolescente e que vive drama pessoal.
Em tempos de campanhas de marketing viscerais que transformam filmes em sucesso antes mesmo da estreia, o êxito de Um Lugar Silencioso é a prova que o boca a boca ainda pode fazer a diferença. Além de tudo, serve para nos fazer imaginar como seria um mundo sem ruídos, sem engarrafamentos, celulares, televisão, etc, etc. E o que faríamos para viver nesse contexto. Fica a expectativa para os próximos longas dirigidos por Krasinski.
0 Comentários