Por André Azenha
As opiniões sobre o Rei do Rock são distintas: enquanto alguns o vêem como um “pobre garoto sulista burro com um empresário paizão” (segundo o lendário crítico musical Lester Bangs), há quem o achasse tão carismático quanto Rodolfo Valentino. Sua morte, em 16 de agosto de 1977, só evidenciou o culto à sua figura, mesmo ele tendo vivido uma fase decadente nos últimos anos de vida.
Elvis fez 33 filmes durante a vida, um recorde para quem a crítica dizia não saber atuar. Seus longas arrecadaram centenas de milhões de dólares em bilheteria e nem podia ser diferente – ele é o artista que mais vendeu discos até hoje, com mais de um bilhão de álbuns comercializados.
Ninguém discute que Elvis é um dos artistas mais importantes da música pop, quiçá do “universo pop” tal qual o conhecemos hoje. Além de cantar maravilhosamente, tinha o rebolado certo na hora certa e foi o grande responsável pela principal revolução musical e adolescente no século XX – é preciso salientar que não foi o pioneiro do rock. Antes dele cantores do quilate de Chuck Berry, Little Richard e Fats Domino já faziam rock muito bem, obrigado.
Só que o produtor musical Sam Phillips queria um branco com voz de negro. “Se eu encontrasse um homem branco que tivesse o som negro e o sentimento negro, eu faria um milhão de dólares”, chegou a dizer. E o sujeito foi Elvis, que levou para as plateias brancas o som transformador que catalisou o espírito jovem.
Vale ressaltar que Elvis sempre fez questão de lembrar suas influências. O que ele conseguiu foi ampliar a plateia do novo ritmo contagiante. Sem ele, e isso é um clichê, mas é pura verdade, nada do que veio depois, seja punk, pop, metal, etc, teria visto a luz do sol. Não existia antes e nem surgiu depois quem despertasse tanto a imaginação e a libido em corações e mentes juvenis.
Bem produzidas ou não, suas obras cinematográficas reuniam situações e ações condizentes com os padrões de consumo da época. Atraíam meninas e meninos, que lotavam os cinemas. Elas queriam ver o galã. Eles se viam no lugar do herói, cercado de lindas garotas. O público encontrava ainda carrões e as aventuras radicais para os padrões daqueles tempos. Alguns desses filmes merecem destaque.
Primeiro, o filme que melhor captura a energia do jovem Elvis, O Prisioneiro do Rock (1957). Favorito dos fãs, integra a chamada “trilogia rebelde” dos anos 50, que retrata o cantor como transgressor e incompreendido, na linha de Juventude Transviada – que ele idolatrava.
Em O Prisioneiro do Rock o astro vive um jovem que, após ser enviado à prisão por ter matado acidentalmente um homem, decide cantar atrás das grades. Mas as coisas se agitam quando uma bela caçadora de talentos surge pelo caminho. Destaque para a antológica cena da canção Jailhouse Rock, que foi coreografada pelo próprio Elvis. Reprisada várias vezes na TV, ao longo dos anos, acabou virando um dos primeiros videoclipes. Tornou-se tão popular que em pelo menos duas oportunidades foi homenageada no cinema: em The Blues Brothers (ou Os Irmãos Cara de Pau, de 1980), com John Belushi e Dan Aykroyd, no qual Jailhouse Rock também é executada em uma prisão, e no divertidíssimo Cry Baby (1990), com Johnny Depp bancando o roqueiro de topetão, novamente no interior de um presídio. Em 2004, O Prisioneiro do Rock entrou para o Registro Nacional de Filmes (United States National Film Registry) dos EUA, consolidando sua importância histórica.
Entre 1958 e 1960, o roqueiro esteve no exército, período no qual conheceu sua futura esposa Priscilla. Quando retornou do serviço militar, substituiu a imagem de rebelde pela de bom moço, passando a executar um repertório “mais calmo”, canções de inspiração gospel e baladas românticas como Are You Lonesome Tonight? e Can’t Help Falling in Love.
Chama atenção o famoso Amor a Toda Velocidade (1964), em que o ídolo contracena com Ann-Margret e canta a clássica Viva Las Vegas. A imprensa chegou a anunciar que os dois iam casar. De fato, a química do casal quase incendeia a tela e levou o empresário “paizão” Coronel Tom Parker a brigar com o diretor, o experiente George Sidney.
Outra curiosidade, Viva um Pouquinho, Ame um Pouquinho (Live a Little, Love a Little, 1968) traz algumas “ousadias”. A última parceria entre Elvis e o diretor Norman Taurog, responsável por uma dúzia de comédias leves do artista, é o único de seus filmes a realmente lidar com a trilogia sexo, drogas e rock’n’roll e inclui uma trilha diferenciada, com incursão ao rock psicodélico, bossa nova do brasileiro Luiz Bonfá e o single A Little Less Conversation que, na época, foi o menos vendido da carreira de Elvis, mas virou um fenômeno e número 1 em vários países no século 21.
Os filmes de Elvis viraram “um gênero próprio”, inspirando as produções da “Turma da Praia”. Eram divertidos, entretanto Elvis concordava com a crítica, que os achava descartáveis. “Obrigado” pelo Coronel Parker a largar os dramas por comédias musicais, o astro caiu em depressão e nas drogas. Além de uma saúde debilitada (fato evidenciado pelo ganho de peso), houve o estouro dos Beatles – segundo o próprio John Lennon, o quarteto não teria existido sem Presley –, que começou a lhe roubar o público.
Porém Elvis nunca desapareceu por completo. Após a morte, o cantor continuou nas telas, em inúmeras homenagens e documentários, como Elvis: O Ídolo Imortal, que apresenta, inclusive, cenas de seu funeral. Sua morte paralisou os EUA. Décadas depois é como se ele continuasse em plena atividade. O relançamento de seus hits ainda chega ao primeiro lugar de diversas paradas internacionais e, em 2007, Elvis até voltou a aparecer na TV “ao vivo”, num dueto do além (na verdade, via rotogravura) com Celine Dion no programa de maior audiência dos EUA, American Idol. Elvis morreu, mas não saiu de cena.
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