A relação entre Elvis e Las Vegas é emblemática. Foi lá que, em 1956, em seu debute profissional na cidade, que sofreu sua primeira frustração profissional após ter se tornado o Rei do Rock. O público dos hotéis, acostumado a apresentações intimistas e artistas como Frank Sinatra, não estava preparado para o ritmo acelerado e os rebolados do astro. Mas nada como o tempo para corrigir injustiças.
No ano seguinte, Elvis protagonizou aquele que é considerado seu melhor filme, O Prisioneiro do Rock. Depois, passou dois anos no exército americano e retomou a carreira, no início dos anos 60, com um repertório musical mais eclético (gospel, baladas, country, blues, etc). Nesse período, ele praticamente sumiu dos palcos – protagonizou uma série de filmes-musicais de qualidade duvidosa, que, segundo o próprio Elvis, se repetiam em histórias em que ele “socava alguns caras, cantava umas doze músicas e ficava com a garota no final”. Apesar disso, todos esses filmes viraram sucesso de público.
Amor a Toda Velocidade é uma espécie de redenção para o Rei em alguns pontos. Modificou a relação dele com Las Vegas, e, diferente de seus longas anteriores, obteve elogios da crítica.
A obra narra a trajetória de um piloto de corridas (Elvis) que precisa arranjar dinheiro para comprar um motor e equipar seu carro no intuito de vencer o circuito de Las Vegas. Pelo caminho ele conhece uma instrutora de natação (a bela atriz sueca Ann-Margret) que o faz apaixonar-se. O herói fica então dividido entre a busca pela grana e o amor da garota.
Pela sinopse, o filme lembra tantos outros musicais estrelados anteriormente pelo Rei do Rock, e que traziam os desejos de muitos garotos naqueles tempos: carrões e lindas mulheres. Diferencia-se pela excelente trilha musical, composta por clássicos do quilate de The Lady Loves Me, Apreciattion e What’I Say, mais a famosa canção-tema, e principalmente pela química do casal.
Elvis e Margrett incendeiam a tela. A forma como os dois atuaram, e a boa convivência nos bastidores, fizeram a imprensa, que publicava notícias sobre eles diariamente, até chegasse a anunciar um casamento entre os dois. Entrevistada para o documentário Reino – Elvis em Vegas, que acompanha o filme no DVD, a então namorada de Elvis da época diz que o roqueiro, quando comentava sobre sua companheira em cena, falava em tom apaixonado.
Além disso, foi a primeira vez que o astro realmente dividiu os holofotes com outra pessoa na telona. Como ele, Margrett era um símbolo sexual, cantava, dançava e atuava – fato que fez o empresário “paizão” de Elvis, Coronel Tom Parker, amedrontado com a possibilidade do pupilo ser ofuscado em cena, brigar com o experiente diretor George Sidney
Só que a junção de duas figuras carismáticas não prejudicou a carreira nem de Elvis e nem da atriz e Amor a Toda Velocidade levou multidões aos cinemas. Há quem o considere, também, um avanço em relação a “O Prisioneiro do Rock”. E a produção ainda serviu de cartão postal para Las Vegas, e Elvis finalmente caiu nos braços da terra dos cassinos e hotéis.
Tal êxito serviu de incentivo para o Rei voltar aos palcos. Glorificado após especial “de retorno” da NBC, em 1968, Elvis quis retornar às turnês, o que implicariam, na ótica torta do Coronel Parker, em novas e cansativas viagens, o risco de não conseguir dinheiro suficiente e ainda o perigo de confrontar um novo público, que tinha novos ídolos: Beatles, Stones e Dylan. Em Vegas, Parker encontrou a solução para sua ambição. Elvis pôde realizar uma série de shows para uma plateia que havia sido adolescente nos anos 50, bateu todos os recordes e lucros de apresentações na cidade, e conseguiu reencontrar a felicidade por um breve período. Os últimos shows da lenda seriam ali.
Margrett casou-se em 1967 com o ator Roger Smith e posteriormente recebeu duas indicações ao Oscar, de Atriz Coadjuvante por Ânsia de Amar (1971), e Atriz por Tommy (1975).
Apesar do roteiro irregular, de final apressado, a obra marcou uma geração, misturando musical e comédia romântica, e a faixa-título tornou-se símbolo da “terra dos cassinos”, sendo executada até hoje por lá.
Amor a Toda Velocidade
Viva Las Vegas
EUA. 1964.
Direção: George Sidney. R
Com Elvis Presley, Ann-Margret, Cesare Danova.
86 minutos.
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