Quem foi criança ou adolescente nos anos
1980 deve lembrar quando repetíamos na escola as aventuras de certos heróis
japoneses que chegavam ao Brasil pela finada emissora carioca Rede Manchete.
Em
2023 foram completados 35 anos do lançamento, no Brasil, de Kyojuu
Tokusou Juspion, algo como Juspion e a Investigação Especial de
Criaturas Gigantes. Segundo o produtor Susumu Yoshikawa, o nome original Juspion
é uma amálgama das palavras "Justice" e "Champion" (Campeão
da Justiça).
Com uma temporada, O Fantástico
Jaspion, título brasileiro, teve uma trajetória a exemplo de Nacional
Kid, primeiro personagem do Japão e atrair a audiência daqui: Jaspion não
fez grande sucesso em sua terra natal, quando foi produzido pela Toei Company e
teve seus 46 episódios transmitidos a pela TV Asahi entre 15 de março de 1985 e
24 de março de 1986.
Virou febre brasileira aos ser
exibido pela Manchete a partir de 22 de fevereiro de 1988 juntamente com
Changeman, no programa Clube da Criança, comandado à época por Angélica. Mas
quem pensa que essas duas séries chegaram ao país diretamente pela televisão se
engana. Foram lançadas em VHS por uma locadora do bairro Liberdade, em São
Paulo, para depois chegar à tevê aberta.
Os atores Hikaru Kurosaki (Jaspion) e Kyomi Tsukada (Anri). |
Já entre agosto de 1994 até dezembro de
1995, com reprises em 1996, o seriado foi exibido pela Rede Record, onde manteve ótimos índices de audiência. Posteriormente, em 1997, foi transmitido pela CNT
Gazeta, Rede Brasil e, em 2020, pela Band.
A produção beirava o trash: herói
japonês de cabelo black power (em parte do seriado), monstros visivelmente
feitos de borracha, um bebê alien que lembra um ancestral dos Teletubbies, a
mesma pedreira que servia de cenário para todos os combates, e um vilão com
visual copiado de Darth Vader, de Star Wars, incluindo capa preta e
espada-laser.
Ainda havia uma androide bonitinha,
Anri, que servia de interesse romântico.
A estratégia da Rede Manchete para
emplacar a série foi a seguinte: durante anos o último episódio foi adiado,
aumentando a curiosidade do público. Este fato, somado à carência da plateia
nacional por um novo herói asiático, desde o já citado Nacional Kid, gerou
grande audiência.
E Jaspion virou cult, álbum de
figurinhas, coleção de bonecos, material escolar e até espetáculo de circo no
Brasil - dividindo a arena com uma história do grupo Changeman. Recordo quando
meus pais levaram e meu irmão ao circo instalado no Emissário Submarino de
Santos. A “briga” para conseguir comprar as máscaras dos personagens era tanta,
que consegui “apenas” a do Change Pégasus.
Jaspion e Changeman abriram as portas no
país para uma enxurrada de outros seriados da terra do sol nascente: Flashman,
Jiraiya, Spielvan, e até desenhos como Cavaleiros do Zodíaco,
Patrulha Estelar e Dragon Ball, entre tantos outros.
Comercial dos bonecos lançados pela Glasslite. |
A trama tem início quando o sábio Edin
(Edgin, no original) encontra o então garoto Jaspion, órfão – cujos pais
morreram num acidente com uma nave. Edin cria o jovem sabendo que logo o rapaz
se tornaria o guerreiro celestial encarregado de destruir o vilão Satan Goss.
Já na adolescência, Jaspion compreende seu destino e aceita de seu mentor as
armas e a androide Anri, parceira na busca pela paz do universo.
Os episódios tinham praticamente o mesmo
roteiro: Satan Goss e seu filho MacGaren enviavam um monstro ou vilão de altura
espantosa que Jaspion derrotava com a ajuda do Gigante Guerreiro Daileon.
Revista pôster publicada pela Ebal. |
Ficou famosa a locução do seriado, que
alertava: “Satan Goss tem o poder de enfurecer os monstros e transformá-los em
seres incontroláveis”.
Em seus vários combates, Jaspion e Anri
ganharam aliados. Um exemplo é Boomerman, agente que utilizava bumerangues
contra os vilões. Cada capítulo possuía uma mensagem positiva, educativa, e na
reta final, O Fantástico Jaspion ganhou tons dramáticos, com a busca
pelas cinco crianças que poderiam dar vida ao pássaro dourado, capaz de derrotar
Satan Goss.
Quem dublava o protagonista no Brasil era o ator
Carlos Takeshi, que participou de algumas novelas e foi apresentador por doze
anos do canal a cabo Shoptime, onde vendia computadores e games.
Revista em formato fotonovela publicada pela Bloch. |
No auge, Jaspion obteve os maiores índices de audiência da história da Manchete. Pelo enorme número de seguidores no Brasil, cuja população é a sexta maior do planeta (e com a maior população nipônica fora do Japão), o herói invariavelmente continua uma das séries tokusatsu com maior número de fãs em todo o mundo.
Graças à popularidade, os compositores Michael Sullivan e Paulo Massadas, os dois maiores hitmakers brazucas dos anos 80, criaram em 1989 a canção Jaspion-Changeman, cantada pelo grupo Trem da Alegria no álbum homônimo do grupo, lançado no mesmo ano.
A música-tema oficial do seriado, interpretada
por Akira Kushida no original e dublada, foi cantada por crianças de todo o
Brasil e até gibis do personagem chegaram às bancas. A editora Bloch
publicou revistas no formato fotonovela, transformando episódios em histórias
em quadrinhos. A Brasil-América (Ebal) fez HQs originais seguindo a trama
televisiva com fidelidade (lançando também quadrinhos em formato revista pôster). Nos
anos 1990, a Abril adquiriu os direitos do personagem e produziu uma versão
que trazia um Jaspion loiro, mais mulherengo, enfrentando Nimbus, o Usurpador e que ressuscitava Satan Goss e MacGaren. Durou 12 edições e depois o herói passou a
ser publicado pela editora no mix Heróis da TV, numa terceira versão da revista (as anteriores foram respectivamente de personagens da Hanna-Barbera e da Marvel), agora com
os super-heróis japoneses.
Espetáculo circense. |
Um box em DVD com a série chegou às
lojas brasileiras em 2009, pela Focus. Em 2020 saiu a graphic novel brasileira O
Regresso de Jaspion. A história é retomada do ponto onde a série de TV acabou. Após
derrotar Satan Goss e MacGaren em uma batalha mortal, Jaspion deixou o Planeta
Terra para lutar contra as forças do mal por todo o universo. Mas surge uma
nova ameaça! A concentração de energia negativa traz a terrível bruxa galáctica
Kilmaza de volta à vida. Tomada pelo desejo de vingança contra o Campeão da
Justiça, agora ela planeja ressuscitar não apenas MacGaren, mas Satan Goss e
outros aliados. É hora de Jaspion voltar à Terra e lutar mais uma vez contra as
forças do mal. Para isso, o herói contará com a ajuda de velhos amigos como
Boomerman, Anri, Miya, John Tiger e o Gigante Guerreiro Daileon.
Em 2018, Nelson Sato
anunciou a produção de um longa-metragem de Jaspion no Brasil, dirigido pelo
santista Rodrigo Bernardo. Desde então os fãs aguardam ansiosos. O campeão da justiça também apareceu em longas-metragens live action no Japão.
Há ainda o livro Changerman,
Jaspion, Jiraya e Cia. (2013), de João Lobato, que dá uma geral sobre os
tokusatsus no Brasil, Heróis Japoneses: Mais de um Século de História (2022),
de Marcus Marinho, com mais de 400 páginas, e em 2023 foi anunciado o Guia
Visual Definitivo: O Fantástico Jaspion, organizado para a editora Mozu por Adriano Almeida, Ariel Wollinger e Ricardo Cruz no Anime Friends
e produto oficial da Toei Company.
O Fantástico Jaspion
Kyoju Tokuso Jaspion, Japão, 1985.
Direção: Akihira Tojo, Takeshi Ogasawara, Yoshiaki Kobayashi.
Elenco: Hikaru Kurosaki, Kiyomi Tsukada, Junichi Haruta.
Ação / Aventura / Comédia.
575 min.
A HQ da Abril. |
O Regresso de Jaspion tem extras muito bons, com depoimentos de artistas, atores, especialistas. |
0 Comentários