Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas (1967)

 



Quando Warren Beatty e Faye Dunaway subiram ao palco do Teatro Dolby de Los Angeles para anunciarem o prêmio de melhor filme na 89ª cerimônia do Oscar, mal sabiam que o momento ficaria marcado pela maior gafe na história da premiação. Que ofuscou os grandes momentos da noite. Por exemplo, a celebração de 50 anos de Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas.

Para festejar as cinco décadas do clássico os dois astros veteranos marcaram presença na festa. O preconceito contra idosos fez diversas pessoas acharem que a falha era culpa deles. Não. Foram vítimas da situação. Vale recordar o longa que, ao lado de Easy Rider – Sem Destino (de dois anos depois), transformou o cinema dos EUA.

Anos 60. Período de transformação política e social. Busca pelos direitos civis. Panteras Negras. Hippies. Rock psicodélico. Inconformismo com a Guerra do Vietnã. Pop art. O mundo mudava a passos largos. Hollywood demorava a entender as mudanças. A Era de Ouro dos estúdios chegava ao fim. O fracasso retumbante de Cleópatra (1963), com Elizabeth Taylor, era a pá de cal num sistema que produzia filmes cada vez mais distantes da realidade. Os norte-americanos não se enxergavam mais nas superproduções e seus heróis. Viam filhos, irmãos, amigos, irem à guerra e não voltarem. Caso voltassem, estavam aleijados, física e psicologicamente.

Uma nova geração de cineastas baby boomers precisou surgir para que o cinema do país voltasse a ter relevância e vivesse a fase mais inspirada de sua história: Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Peter Bogdanovich, Michael Cimino, Paul Schrader, George Lucas, Steven Spielberg, Brian De Palma e outros jovens diretores, influenciados por tudo descrito acima e a nouvelle vague francesa, conceberam clássicos seguidos por clássicos num curto período de tempo. E se puderam ousar, debater e refletir temas como violência, sexo, política, transcender e subverter gêneros cinematográficos, muito é devido ao êxito de Bonnie & Clyde.

O filme romanceia a história real de Bonnie Parker (Beatty) e Clyde Barrow (Dunaway). O casal de assaltantes de banco e assassinos aterrorizou os estados centrais numa das épocas mais sensíveis daquela nação: a Grande Depressão.

Dirigida por Arthur Penn, a obra foi a vitória pessoal de Warren Beatty. Idealizador e produtor do projeto, o astro garanhão topou o desafio de viver o sujeito charmoso, carismático, mas impotente, que supera as dificuldades sexuais ao portar sua arma de fogo. O ator colocava em risco, assim, sua reputação ante plateias conservadoras. Abriu mão do salário convencional por 40% da bilheteria total. O estúdio não acreditava no filme. Beatty virou milionário e dos profissionais mais influentes da indústria.


O ritmo alucinante, a violência realista e, por vezes, estilizada e glamourizada, mais o fato dos heróis serem ladrões, levaram mentes antiquadas ao desespero. O público, no entanto, tal qual a comunidade na vida real décadas antes, viu nos protagonistas e seus amigos uma turma de revolucionários, de Robin Hoods. Que iam contra o status quo: os bancos, representantes, no caso, dos poderosos, dos credores, dos inescrupulosos. Eram a novidade contra o antigo, o ultrapassado.

Teve dez indicações ao Oscar – venceu atriz coadjuvante (Estelle Parsons) e fotografia – merecia mais, mas acabou boicotado pela ala mais bunda mole da Academia. Revelou Gene Hackman ao mundo, transformou Faye Dunaway em estrela e influenciou de O Poderoso Chefão (1972), à filmografia de Quentin Tarantino e produções de outros países como a brasileira Cidade de Deus (2002).


Bonnie & Clyde: Uma Rajada de Balas
Bonnie & Clyde.
EUA. 1967.
Direção: Arthur Penn.
Com Warren Beatty, Faye Dunaway, Gene Hackman, Michael J. Pollard, Estelle Parsons, Gene Wilder.
101 minutos.



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