Eu, os X-Men e a diferença invisível

 


Esse texto reflexão-desabafo é dedicado a todos aqueles que se sentem diferentes de alguma forma e que sofrem discriminação, violência física ou psicológica por causa disso. Força, coragem e muito amor para vocês.

Quando eu era criança, lembro que gostava de acompanhar algumas séries e desenhos de heróis/mocinhos (a série CHiPs, os desenhos de G.I. Joe – Comandos em Ação, He-Man, She-Ra, Thundercats, etc), mas refletindo agora acho que não me identificava ou não me sentia no mundo de nenhum deles.

O fato de eu parecer diferente perante os olhos da sociedade, devido ao meu problema físico (tenho encurtamento na perna esquerda), não me permite me encaixar em nenhum desses perfis de personagens tão heróicos e tão perfeitos.

No começo dos anos 1990, uma famosa emissora de tevê passou a exibir um desenho que mostrava um grupo de jovens mutantes com habilidades especiais, mas sua principal luta não era contra seres tão poderosos quanto eles, mas sim enfrentar o preconceito da sociedade, dos seres humanos considerados perfeitos, que não possuíam o gene mutante.

O saudoso Stan Lee foi quem criou esse grupo de personagens tão extraordinários, os X-Men, e foi graças a ele que senti pela primeira vez, que eu havia encontrado o meu mundo, os meus heróis imperfeitos, marginalizados, mas extraordinários aos meus olhos (como os são até hoje).


A definição do diferente ditada pela sociedade pode estar ao seu aspecto físico (como o tamanho do seu manequim), à sua orientação sexual, à cor da sua pele, à sua religião, etc.

Eu tenho uma lembrança muito viva do filme Malcom X (1992), de Spike Lee, cineasta que admiro muito, não apenas por seu talento em dirigir filmes, mas pelo seu posicionamento perante o preconceito e racismo: um professor tenta convencer Malcom (ainda criança) a desistir de seu sonho de ser advogado, alegando que não era uma ideia realista para um negro. Porém o garoto rebate dizendo que tem as melhores notas da classe, que foi escolhido para ser presidente do Grêmio estudantil e que, portanto, quer ser advogado. O professor continua tentando convencê-lo a ser carpinteiro: “você tem habilidade com as mãos”; “carpinteiro é uma boa profissão para um homem de cor”; “Jesus era carpinteiro”. Esse embate entre aluno e professor, entre o que se quer, o que se sonha e o que os outros impõe, me faz pensar: “até onde alguém tem o direito de ditar ou de interferir nos seus sonhos e projetos?”, quando não cabe a ninguém julgar ou aceitar o outro, mas sim, respeitá-lo.

Filmes como Forrest Gump e Extraordinário mostram que ser diferente perante a sociedade não te impede que você realize coisas notáveis. Pelos olhos preconceituosos de alguns (que parecem tentar te subestimar a todo instante) você pode surpreendê-los com algum feito extraordinário, mas principalmente fazer algo especial por si mesmo e por aqueles que ama.

Diante de tanta diversidade de cores, de gêneros ou de limitações físicas (entre outros tipos) há uma diferença visível aos olhos de quem simplesmente vê, mas que é uma diferença invisível aos olhos de quem ama e que enxerga além.

Obs: o termo diferença invisível foi tirado do título da graphic novel de Julie Dachez (roteiro) e Mademoiselle Caroline (adaptação do roteiro, desenho e cores) que foi lançada no Brasil pela editora Nemo. A história é sobre Marguerite (personagem baseada na própria Julie Dachez), uma moça de 27 anos que tem um tipo de Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Autismo de Alto Desempenho (também conhecido como a síndrome de Asperger). 

Eu acho que esse termo diferença invisível e seu significado tem tudo a ver com o que abordo neste texto.





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