O Silêncio dos Inocentes (The Silence of The Lambs, 1991)



Quando comparamos O Silêncio dos Inocentes (1991) e sua continuação, Hannibal (2001), ambos adaptados da mesma série de livros, percebemos o que diferencia uma grande trabalho cinematográfica de um menos inspirado. Enquanto o primeiro filme, de Jonathan Demme, é uma experiência aterradora, envolvente, o segundo, de Ridley Scott (de carreira irregular, entre obras primas e outras esquecíveis) se limita à perturbação meramente gore, escatológica. 

A magia no longa de Jonathan Demme reside em sua abordagem, ao não introduzir imediatamente o canibal Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), mas levando-nos a encontrá-lo através dos olhos e da mente perspicaz de Clarice Starling (Jodie Foster).

Starling, a estagiária do FBI, é o fio condutor da narrativa, sem interrupções substanciais. Enquanto Dr. Hannibal Lecter paira como presença malévola, há estranha simpatia em sua relação com a detetive. O filme não apenas oferece um espetáculo emocionante, mas nos presenteia com dois dos personagens mais memoráveis do cinema.

A protagonista mergulha em um intrigante jogo psicológico com o brilhante e perturbador Haniball. Ao perseguir o assassino em série Buffalo Bill, Clarice descobre que a chave para desvendar o mistério reside nos recessos sombrios da mente de Lecter, que está preso. O diretor, baseado no livro homônimo de Thomas Harris (lançado em 1988) vai além da trama de suspense e terror, explora a complexa relação entre os personagens principais. Cria, assim, um filme atemporal e intrigante. 

Clarice e Lecter compartilham uma marginalização em seus desejados mundos - ela, por ser mulher na profissão policial; ele, por sua natureza serial killer e canibal. Ambos enfrentam impotência, mas usam seus poderes de persuasão para escapar de suas armadilhas. Essa dança psicológica é complementada por elementos visuais e a trilha sonora cuidadosamente orquestrada. 

Jodie Foster e Anthony Hopkins, merecidamente, receberam o Oscar por suas atuações inesquecíveis - três anos antes a atriz já fora premiada, por Acusados. A Academia reconheceu a singularidade deste thriller, lançado meses antes da cerimônia. Hopkins, por sinal, teve apenas 16 minutos em cena e concebeu um dos maiores vilões da cultura pop, ao lado de Darth Vader, o Coringa de Heath Ledger e outros poucos. 

O Silêncio dos Inocentes solidificou seu lugar na história ao conquistar a cobiçada estatueta do Oscar em todas as cinco principais categorias: Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro (adaptado). Igualou o feito de Aconteceu Naquela Noite (1934) e Um Estranho no Ninho (1975).

Exemplo de filme que superou o material literário original. Outro exemplo? O Poderoso Chefão. Não é pouca coisa.



O Silêncio dos Inocentes.

1991  

Direção: Jonathan Demme  

Roteiro: Ted Tally (baseado no romance de Thomas Harris)  

Elenco:

Jodie Foster como Clarice Starling  

Anthony Hopkins como Dr. Hannibal Lecter  

Scott Glenn como Jack Crawford  

Ted Levine como Jame Gumb/Buffalo Bill  

Anthony Heald como Dr. Frederick Chilton  

Brooke Smith como Catherine Martin  

Diane Baker como Senadora Ruth Martin  

Montador: Craig McKay  

Diretor de Fotografia: Tak Fujimoto  

Compositor: Howard Shore  


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