Lauro Corona, o galã que partiu cedo demais

 

Quando criança, nascido em 1980, eu o confundia com Cazuza. Mais tarde, descobri não ser o único e que muitas pessoas achavam que o músico e cantor e o ator Lauro Corona eram primos, de tão parecidos.

Lauro Corona foi daqueles artistas que passaram pelo planeta Terra feito relâmpago, mas jamais seriam esquecidos. Nascido no Rio de Janeiro, em 6 de julho de 1957, foi dos galãs mais queridos da história da tevê brasileira e um dos melhores atores de toda uma geração, liderando as correspondências da Globo por um bom tempo, superando os até então imbatíveis Tarcísio Meira e Francisco Cuoco.

Iniciou a carreira de ator em filmes publicitários. No teatro, estreou na década de 1970 na peça infantil Seu Sol, Dona Lua, de Marcos Sá. Posteriormente, convidado pelo diretor Wolf Maya, atuou em As Cigarras e as Formigas, de Maria Clara Machado, A Estória de Copélia, de Renato Coutinho, e Simbad, o Marujo, de Álvaro Guimarães.

Carla Camurati e Lauro Corona em Cometa Loucura, 1983 — Foto: Geraldo Modesto/Memória Globo. 

Começou na emissora carioca em 1977, indicado pelos atores e diretores Ziembinski e Paulo José para integrar o elenco do especial Ciranda Cirandinha, escrito por Domingos Oliveira, Antônio Carlos da Fontoura, Luiz Carlos Maciel e Euclydes Marinho. Oito meses depois, conquistou seu primeiro papel em telenovelas, interpretando o jovem Beto no sucesso Dancin’Days, de Gilberto Braga, contracenando com Gloria Pires, que interpretava Marisa.

Em 1979, participou da novela Os Gigantes, de Lauro César Muniz, no papel de Polaco. No ano seguinte, em Marina (1980), de Wilson Aguiar Filho, viveu o mimado Marcelo, que aprende a enfrentar os preconceitos pelo amor de uma moça negra, Lelena (Íris Nascimento). Em Baila Comigo (1981), de Manoel Carlos, foi Caetano, amigo de Quinzinho, um dos irmãos gêmeos interpretados por Tony Ramos. Posteriormente, atuou em Elas por Elas (1982), de Cassiano Gabus Mendes, ao lado de Mário Lago, Aracy Balabanian, Ester Góes, entre outros.

Deus os primeiros passos no cinema em 1982, no filme O Sonho Não Acabou, de Sérgio Rezende. A partir dessa experiência, também se aventurou como cantor, gravando dois discos. A música Tem que Provar, de seu primeiro compacto, integrou a trilha sonora da novela Louco Amor (1983), de Gilberto Braga, quando interpretou o personagem Felipe. Em 1984, formou par romântico com Débora Bloch em Bete Balanço, de Lael Rodrigues. A cena dos jovens, na praia, em que ele apresenta a personagem título a Cazuza e demais integrantes do Barão Vermelho, ressoa até hoje nas redes sociais.


Também integrou programas da linha de shows do canal dos Marinho. Em 1983, ao lado de Carla Camurati, apresentou o especial Cometa Loucura, um programa de auditório voltado para o público jovem, gravado no Teatro Fênix, dirigido por Alexandre Braz e parte da nova programação dominical.

Voltou a atuar em telenovelas, fazendo uma participação especial em Vereda Tropical (1984), de Carlos Lombardi. Nesse mesmo ano, trabalhou em Corpo a Corpo, outro folhetim de Gilberto Braga. Seu personagem, Rafael, vive com a mãe e é responsável pelo sustento da casa. Devido a uma enchente que destruiu a casa onde viviam em Santa Catarina, ele e a mãe se mudam para o Rio de Janeiro, onde o rapaz conhece Beatriz (Malu Mader).

Em 1986, esteve na minissérie Memórias de um Gigolô, de Walter George Durst e Marcos Rey, interpretando o aprendiz de gigolô Mariano. E no ano seguinte protagonizou pela primeira vez uma novela, Direito de Amar, de Walther Negrão. Na trama, seu personagem, Adriano de Montserrat, apaixonava-se por Rosália (Gloria Pires), atriz com quem formara par romântico em sua estreia na Globo.

Lauro Corona em Os Gigantes, 1979 — Foto: Nelson Di Rago/Globo

Sua última novela foi Vida Nova (1988), de Benedito Ruy Barbosa, na qual interpretou Manoel Victor, imigrante português que namorava Ruth (Deborah Evelyn), uma moça judia brasileira.

Boatos sobre a AIDS surgiram em janeiro de 1989, quando o astro pediu afastamento da telenovela, alegando estafa. Lauro se instalou em Campos do Jordão para descansar e repor as energias. Dois meses depois, voltou muitos quilos mais magro e com uma visível queda de cabelo. Logo em seguida, mudou-se para a casa dos pais, isolando-se até mesmo dos amigos. Quando o estado de saúde piorou, foi internado, mas os pais proibiram a Clínica São Vicente na Gávea de dar qualquer informação à imprensa sobre o estado de saúde do filho.

Faleceu em 20 de julho de 1989, devido a complicações decorrentes do vírus da Aids, após nove dias internado na Clínica São Vicente. Discreto quanto à sua vida pessoal, era homossexual, sendo uma das primeiras personalidades brasileiras a morrer de complicações decorrentes do vírus HIV. O atestado de óbito apontou como causas da morte complicações como infecção respiratória, septicemia, doenças oportunistas, miocardite, insuficiência renal e hemorragia digestiva alta. Em nenhum momento foi citada a palavra AIDS, o que reforçou um comportamento adotado pelo jovem galã de telenovelas da Globo e pelos familiares nos últimos meses de vida: o de negar veementemente a doença. Lauro Corona não comentava com os amigos que era portador do vírus e nem aceitava a condição, tratando os sintomas das doenças oportunistas com homeopatia.


O personagem na telenovela Vida Nova teve desfecho apressado, com uma viagem para Israel, devido à doença do ator. A última cena mostrava um carro preto partindo numa noite chuvosa, ao som do poema Viajar! Perder Países!, de Fernando Pessoa, declamado em off pelo próprio ator.

Sua partida causou grande comoção nacional. O rosto do artista estampava as capas das revistas Amiga, Contigo!, Sétimo Céu, e muitas outras. Os fãs, tanto mulheres quanto homens, choraram. O Canal Viva elegeu Lauro o "maior galã dos anos 1980", garantindo ao astro um lugar reservado entre os cinco maiores galãs da história da TV Globo. Lauro Ficou para sempre como aquele rapaz bonito, frágil, amável, de belos olhos azuis e sorriso cativante. Alguém disse na ocasião de sua morte: "Laurinho deixou sua marca na história da TV. Uma marca que nem o tempo será capaz de diluir".





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