O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte

 




Um humilde lavrador chamado Zé do Burro (Leonardo Villar) faz uma promessa a Iansã (Santa Clara na Igreja Católica), em centro de umbanda. 

Ele e a esposa Rosa (Glória Menezes).percorrem cidades até a igreja em Salvador, onde o padre Olavo (Dionísio Azevedo) o impede de entrar com a cruz.

Baseado na peça de Dias Gomes, o filme de Anselmo Duarte resistiu bem ao tempo, melhor que obras contemporâneas do Cinema Novo, movimento do qual não fez parte. 

É um retrato contundente do conflito entre crença popular e religião organizada, mais preocupada em garantir "reserva de mercado" do que fazer caridade, e a maneira como a população e a mídia sensacionalista buscam "salvadores da pátria". 

O crítico e cineasta François Truffaut teria iniciado os aplausos que garantiram a Palma de Ouro em Cannes para O Pagador de Promessas.

A primeira e única Palma de Ouro de um filme brasileiro.

Além da Palma de Ouro, foi um dos cinco finalistas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e conquistou prêmios nos festivais de São Francisco e Cartagena. 

A produção aproveita brilhantemente a paisagem baiana e o talento dos atores locais Geraldo Del Rey, Othon Bastos e Antonio Sampaio Pitanga, que se tornaram estrelas do cinema nacional. 

Leonardo Villar, ator da estirpe do Teatro Brasileiro de Comédia, tem atuação comovente ao viver o protagonista.

Glória Menezes, em sua estreia no cinema, já demonstra as qualidades de uma grande atriz e estrela em ascensão. Ela substituiu Maria Helena Dias, doente. 

Norma Benguell, chamada às pressas, interpretou o papel de prostituta originalmente destinado a Glória.

Benguell aproveitou o sucesso em Cannes, foi morar em Roma e iniciou longa e bem-sucedida carreira internacional. Casou com o ator italiano Gabriele Tinti.

O Pagador de Promessas foi filmado em duas versões: uma com atores portugueses e outra com brasileiros, devido à co-produção portuguesa. A versão brasileira é a que foi premiada e virou clássica.

Anselmo Duarte recebido com festa em Santos após a Palma de Ouro. 


Anselmo Duarte havia sido o galã mais popular do Brasil em toda a década de 1950. Em julho de 1962, Anselmo Duarte foi ovacionado em Santos após chegar da França. Em 1971 foi membro do júri do festival e, em 1997, participou da 50ª edição do evento.

Luiz Carlos Merten assina a biografia do cineasta, O Homem da Palma de Ouro, parte da Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. O diretor faleceu em 2009.


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