O Legado de Carrie Fisher: Uma Reflexão Sobre os Padrões Cruéis de Beleza na Indústria do Entretenimento



A história de Carrie Fisher é um lembrete trágico dos padrões implacáveis de estética impostos pelo showbusiness e pela sociedade. 

Recentemente, James Blunt, cantor e compositor amigo da atriz, falou sobre as dificuldades enfrentadas por Fisher, quando ela esteve sob pressão dos produtores de Star Wars, que insistiam para que mantivesse um padrão de magreza. A atriz voltaria a interpretar a Leia Organa em O Despertar da Força (2015), 32 anos após O Retorno de Jedi (1983).


O músico britânico era amigo próximo de Fisher desde meados dos anos 1990, quando se mudou para a casa da amiga e da mãe dela, a lendária atriz Debbie Reynolds. 


Em um encontro com Fisher na véspera de sua morte, descreveu-a como "realmente maltratando seu corpo", embora aparentemente a artista estivesse otimista graças à recente contratação para reprisar o papel de Leia. Blunt destacou como Fisher enfrentava as pressões impostas às mulheres na indústria do entretenimento.



A tragédia de Fisher ganhou ainda mais destaque quando exames toxicológicos, após seu falecimento, revelaram a presença de substâncias como cocaína, heroína, MDMA e metadona em seu organismo. Blunt, que escreveu sobre seu relacionamento com Fisher em livro de memórias, compartilhou a culpa que sente, especialmente após relatos de que a filha de Fisher, Billie Lourd, o considera parcialmente responsável pelo ocorrido. Enquanto outros amigos confrontaram diretamente a atriz sobre o uso de drogas, Blunt admitiu a falha ao abordar o assunto de forma menos assertiva, o que o deixou com o peso do arrependimento e o afastamento da filha da amiga.


A pressão sobre as mulheres para se manterem magras e jovens na indústria do entretenimento é uma realidade insidiosa e devastadora, que muitas vezes resulta em danos psicológicos e físicos profundos. A gordofobia é uma manifestação extrema desses padrões, perpetuada pela mídia, pela cultura popular e até mesmo por colegas de trabalho.


A jornada de Fisher é apenas um caso entre muitos sobre as dificuldades que as mulheres lidam ao envelhecerem na indústria, em contraste com a permissividade muitas vezes concedida aos homens. Basta vermos os últimos filmes de Tom Cruise e suas parceiras em cena, bem mais novas que ele. 


Enquanto os homens são frequentemente valorizados por experiência e sabedoria acumuladas ao longo dos anos, as mulheres com mais de 50 anos são muitas vezes relegadas a papéis secundários ou mesmo descartadas quando não se encaixam mais nos padrões de beleza estabelecidos.


É crucial reconhecer que esses padrões afetam a autoestima e o bem-estar mental das pessoas e podem ter consequências físicas graves, como o abuso de drogas e transtornos alimentares. O caso de Fisher é um lembrete sombrio: a pressão para atender a essas exigências pode levar a consequências trágicas e irreversíveis.


Além disso, a responsabilidade também recai sobre aqueles que estão ao redor, tal qual Blunt reconhece no livro de memórias. A falta de intervenção e apoio adequados pode contribuir para um ciclo de autodestruição difícil de quebrar.


Precisamos reconhecer e desafiar esses padrões prejudiciais, promovendo uma cultura de aceitação, diversidade e inclusão na indústria do entretenimento e na sociedade em geral. E criar espaços onde as pessoas se sintam valorizadas e respeitadas independentemente de sua aparência física, idade ou tamanho corporal. 


Somente assim poderemos verdadeiramente mitigar os danos causados pela gordofobia e pelos padrões de estética opressivos.

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