Hipocrisia e Intolerância: A Reação à Representação da Santa Ceia nos Jogos Olímpicos de Paris 2024


A abertura dos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris, que trouxe uma representação contemporânea da Santa Ceia com pessoas LGBTQIAPN+, gerou uma onda de críticas de várias organizações religiosas ao redor do mundo. A reação negativa revela um profundo preconceito e uma alarmante ignorância que, em pleno 2024, ainda persistem em nossa sociedade. É inadmissível que, em um século marcado por avanços significativos em direitos humanos e diversidade, ainda haja resistência à inclusão e à representação da diversidade humana.

A representação artística liderada pela DJ e produtora Barbara Butch, ao lado de artistas drag e bailarinos, foi um tributo à diversidade e uma celebração da tolerância. No entanto, essa homenagem foi alvo de críticas severas, acusada de zombar do cristianismo. A Conferência de Bispos da Igreja Católica Francesa e outros líderes religiosos se apressaram em condenar a apresentação, ignorando o seu verdadeiro propósito: exaltar a diversidade e a inclusão em um evento global.

É essencial entender que a sociedade contemporânea é diversa. A religião, embora importante e respeitável, deve encontrar seu espaço no templo, na casa e no íntimo de cada indivíduo. No entanto, a vida em sociedade exige o reconhecimento e a celebração da diversidade. A verdadeira intolerância que deve ser combatida é a própria intolerância, como bem pontuou o filósofo Mário Sérgio Cortella.

Jesus Cristo, cuja imagem é frequentemente usada para justificar preconceitos, foi um exemplo de inclusão e compaixão. Ele caminhou ao lado de marginalizados, mendigos, prostitutas e não ostentava riquezas, em contraste gritante com alguns líderes religiosos contemporâneos que acumulam templos milionários e solicitam doações constantes. É difícil acreditar que Jesus reprovaria uma representação que busca incluir e celebrar a diversidade, valores que ele próprio praticou.

As mesmas pessoas que criticam essa representação artística muitas vezes aplaudem novelas que mostram violência, traições e manipulações. Defendem o uso de armamentos, condenam imigrantes, mas não hesitam em trabalhar e viajar para outros países, usufruindo de condições financeiras melhores. Essa hipocrisia e contradição são alarmantes e refletem uma visão deturpada da moralidade e da ética. A indignação seletiva revela um profundo descompasso entre discurso e prática, evidenciando a necessidade urgente de uma reflexão mais honesta e coerente sobre os valores que defendemos.

Embora a liberdade de expressão e de representação seja um pilar fundamental de uma sociedade democrática, essa liberdade não deve ser estendida a nazistas, fascistas e intolerantes de qualquer tipo. Como disse Mário Sérgio Cortella, devemos ser intolerantes com a intolerância. Antes que alguém venha com o argumento de que é preciso dar espaço a quem defende xenofobia, racismo, machismo e outras formas de discriminação, é crucial destacar que a liberdade de expressão tem limites quando usada para promover o ódio e a opressão. 

A abertura dos Jogos Olímpicos visava promover a mensagem de que todos são bem-vindos e aceitos. É um triste reflexo da sociedade atual que tal mensagem de inclusão seja recebida com hostilidade e intolerância. Precisamos avançar para uma compreensão mais profunda e um respeito genuíno pela diversidade, reconhecendo que a humanidade é vasta e variada.

Portanto, ao criticar a representação da Santa Ceia nos Jogos Olímpicos de Paris, é crucial refletir sobre o verdadeiro ensinamento de inclusão e amor ao próximo. A diversidade não diminui a fé, mas sim, enriquece a experiência humana. Em vez de ataques e preconceitos, devemos abraçar a pluralidade que define nossa sociedade, promovendo um mundo onde todos tenham o direito de serem quem são, sem medo de represálias ou discriminação.

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