Quando Silvio Santos manda, não tem conversa. Mudanças de horários, mensagens misteriosas nos intervalos comerciais e até cancelamentos repentinos fazem parte dos mais de 40 anos da história da emissora dos Abravanel. Mas, em 1988, o "Patrão" levou suas travessuras a um novo nível e declarou guerra à principal rival, a poderosa Rede Globo.
Naquele ano, o SBT já estava dando algumas surras na líder nacional. Contratou o ex-global Jô Soares com um salário fora dos padrões, e conseguiu segurar Gugu Liberato, deixando a rede do plim plim chupando o dedo.
Mas a gota d’água veio quando o SBT anunciou que exibiria o blockbuster "Rambo" na estreia do programa Cinema em Casa. A Globo, em pânico, decidiu exibir "Rambo II" no mesmo horário, achando que tinha dado um xeque-mate. Ah, mas não contavam com a astúcia de Silvio Santos!
Vale lembrar que, naquela época, a maioria das pessoas acabava vendo os filmes na televisão, pois nem todos tinham videocassete, e DVD e TV a cabo nem pensavam em existir. - ao menos por estas bandas. Assim, exibir os dois filmes inéditos na TV brasileira no mesmo horário foi um evento que parou o país.
Na noite de 17 de agosto de 1988, enquanto a Globo exibia "Rambo II", o SBT colocou no ar um slide com a mensagem: "Quem procura acha o Rambo na Globo" — uma brincadeira com o slogan do SBT na década de 1980, "Quem procura, acha aqui". Enquanto isso, o SBT reprisava o programa sertanejo Musicamp, basicamente admitindo a derrota, mas guardando o "Rambo" original para um momento mais estratégico.
E se você pensa que essa foi a única vez que Silvio apelou, se enganou. Lembra quando ele decidiu "criar" Titanic 2? Pois é, Silvio Santos teve a audácia de anunciar uma sequência do épico de James Cameron antes mesmo que o próprio Cameron pudesse pensar nisso. A "continuação" na verdade era um telefilme anterior ao blockbuster do cinema. Era uma jogada para atrair audiência, mesmo que fosse um blefe total.
E quem pode esquecer quando o Homem do Baú transformou a série policial "Ohara", estrelada por Pat Morita (o eterno Mestre Miyagi de "Karatê Kid"), em "Karatê Kid Ohara"? O seriado original não tinha nada a ver com a franquia "Karatê Kid", mas Silvio Santos, em sua sabedoria televisiva, decidiu renomeá-la para capitalizar em cima da popularidade do filme. A lógica era simples: qualquer coisa com "Karatê Kid" no nome é garantia de audiência, certo? Certo.
Voltando a 1988, Silvio anunciou "Rambo" para a semana seguinte, dia 26. A Globo, desesperada, colocou sua arma secreta em ação: a novela "Vale-Tudo", com a icônica trama de Odete Roitman. Para segurar o público, estendeu a novela até não poder mais. O SBT, no entanto, não se abalou e lançou mais uma cartada: "Não se preocupe, quando terminar a novela da Globo, você vai ver: RAMBO". Direto ao ponto.
O plano funcionou. Apesar da audiência esmagadora da novela, que atingiu 83 pontos segundo o IBOPE, o fim do folhetim global levou o público direto para o SBT, que alcançou picos de 42 pontos enquanto a Globo segurava apenas 15. O mais incrível aconteceu às 22h, com o SBT exibindo um slide de espera do filme com uma foto de Rambo e música instrumental, alcançando 19 pontos de audiência. A atração foi apresentada por Jacqueline Meirelles, Miss Brasil do ano anterior, que manteve o público entretido com comentários e curiosidades sobre a produção, estendendo a espera em 50 minutos.
No final, Silvio Santos conseguiu o que queria. E o público? Esse só ganhou, assistindo primeiro "Rambo II" e depois "Rambo", algo que só poderia acontecer na TV brasileira, onde Silvio Santos reina com suas ideias geniais e, muitas vezes, hilariantes.
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