Crítica | Alien: Romulus é Grata Surpresa e o Melhor Filme da Franquia em Décadas


Alien: Romulus é uma das gratas surpresas de 2024 e o melhor filme da franquia desde os quatro primeiros. Sob a direção de Fede Alvarez, o longa traz um vigor renovado ao universo criado por Ridley Scott, que assina a produção ao lado de Walter Hill (Warriors: Os Selvagens da Noite e Ruas de Fogo). 

O uruguaio Fede Alvarez chamou a atenção de Hollywood com o curta-metragem Ataque de Pânico (2009) e se habituou a trabalhar em franquias. Após o sucesso viral de seu curta, que apresentou uma invasão alienígena em Montevidéu, foi contratado para dirigir o remake de A Morte do Demônio (2013) e, posteriormente, O Homem nas Trevas (2016). Em ambos os casos, ele demonstrou habilidade para revitalizar e explorar novas facetas em gêneros estabelecidos, tornando-se uma escolha interessante para conduzir a Alien: Romulus. Ok, Millennium: A Garota na Teia de Aranha (2018) e O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface (2022), estão longe da perfeição, mas serviram para o cineasta se exercitar em tramas de horror e tensão. Aqui encontra seu auge. 

O filme oferece uma visão distópica em uma colônia de trabalho que remete à imagem de corporações modernas como Tesla ou Amazon. Tal qual essas megaempresas, a Weyland-Yutani de Alien: Romulus explora seus trabalhadores de maneira implacável, exigindo milhares de horas de trabalho com a promessa ilusória de uma vida melhor. No entanto, ao mudar as regras e manter seus funcionários presos, a empresa revela a verdadeira natureza da exploração, lembrando as reformas trabalhistas no Brasil que pressionam os trabalhadores a continuar até a velhice, sem garantia de um futuro digno.


A primeira meia hora com a fotografia de Galo Olivares e a direção de Alvarez evoca o estilo visual de Blade Runner. A história começa em um cenário sombrio onde a esperança é escassa e os androides se misturam aos humanos. Nesse ambiente opressor, Rain (Cailee Spaeny) sonha em escapar do trabalho forçado e encontrar um novo lar. A oportunidade surge quando ela e seu androide (David Jonsson) fogem ao lado de outros jovens , mas o que deveria ser uma chance de liberdade rapidamente se transforma em um pesadelo, quando se deparam com uma estação espacial aparentemente abandonada. 

Desde o início, a franquia Alien tem sido sinônimo de tensão e horror. O original Alien (1979), dirigido por Ridley Scott, e sua sequência Aliens, O Resgate (1986), de James Cameron, continuam sendo referências absolutas no gênero, estabelecendo um padrão de qualidade quase inatingível. Alien 3 (1992), sob a direção de David Fincher, e Alien: A Ressurreição (1997), de Jean-Pierre Jeunet, mantiveram a saga em bom nível, cada um trazendo suas próprias nuances e contribuições.

Entretanto, ao passar dos anos, a saga enfrentou altos e baixos. Os crossovers Alien vs. Predador (2004) e Aliens vs. Predador: Requiem (2007), dirigidos por Paul W.S. Anderson e pelos irmãos Strause, respectivamente, foram péssimos. A retomada com Prometheus (2012), também dirigido por Ridley Scott, e Alien: Covenant (2017), trouxe uma mescla de terror, ação e ficção científica, mas a irregularidade deles deixou muitos fãs em dúvida sobre o futuro deste universo. 

É nesse contexto que surge Alien: Romulus, que resgata elementos clássicos, como o terror e a atmosfera sufocante, e mantém a abordagem mais filosófica e complexa iniciada em Prometheus. Ao explorar temas como a relação entre a humanidade e suas criações, Alvarez consegue equilibrar o horror com reflexões mais profundas.

Cailee Spaeny, em ascensão com papéis em Priscilla e Guerra Civil, brilha ao reunir determinação, medo e desespero em uma atuação que resgata a força de Sigourney Weaver como Ripley, sem ser uma mera imitação. Temos, entre os personagens, o esquentadinho, os apaixonados, e o andróide que transita entre o racional e o sentimental. 

A meia hora final é quando Alvarez e o roteirista Rodo Sayagues nos inserem na ação ininterrupta e tensão crescente e há a impressão de vários finais. Ainda há tempo de uma breve reflexão sobre como a Inteligência Artificial pode, em determinado momento, sobrepujar o ser humano. 

Com bom elenco jovem - e calcado em diversidade - e direção competente, a produção honra o legado dos primeiros filmes, ao mesmo tempo em que oferece uma nova bacana para o futuro da série. O único porém é que, desde os trailers, meio que percebemos quem irá sobreviver. 


⭐⭐⭐⭐

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