Crítica | Batman: Cruzado Encapuzado retorna às origens do Homem Morcego

 



Aos 85 anos de história, Batman segue rendendo versões interessantes em diferentes mídias e não cansa o público. A adaptação mais recente das telonas, The Batman (2022), estrelada por Robert Pattinson, trouxe novos elementos ao universo do Cavaleiro das Trevas, incluindo um spin-off centrado no Pinguim, prestes a estrear, e uma continuação que, espero, não tarde a ser produzida. O maior algoz do Homem-Morcego tem novo longa nos cinemas ainda em 2024, Coringa: Delírio a Dois, e promete repetir o sucesso do anterior, cuja bilheteria ultrapassou 1 bilhão de dólares.

Disponibilizada recentemente no Prime Video, a série animada Batman: Cruzado Encapuzado nos transporta para uma Gotham City calçada especialmente na década de 1940, envolta em atmosfera noir.

Com dez episódios de vinte e poucos minutos cada, o projeto marca o retorno de Bruce Timm, co-criador da aclamada Batman: A Série Animada (1992-1995), melhor série animada de super-heróis da história e a melhor versão do Cavaleiro das Trevas fora dos gibis. O produtor, que ajudou a definir o Batman animado com uma estética Art Déco e narrativas complexas, traz uma abordagem estilizada e retrô. Apesar de manter o design robusto e limpo que lembra o programa de três décadas atrás, O Cruzado Encapuzado bebe na fonte das primeiras HQs do personagem. Gotham surge cheia de sombras e mistério, e Batman depende mais da inteligência e da força física do que de gadgets avançados.


Além de Bruce Timm, o dream team de produtores executivos reúne Ed Brubaker, renomado quadrinista de   Gotham Central e Batman: O Homem que Ri, e J.J. Abrams, cujo currículo audiovisual lista  Buffy: A Caça-Vampiros, Star Trek e Star Wars.

Ambientada em uma Gotham City da década de 1940, a obra apresenta uma abordagem mais básica do Batman, sem o traje blindado e o Bat-computador avançado vistos em versões mais modernas. O Batman aqui é retratado como um herói ainda em desenvolvimento, lutando contra o crime com suas habilidades físicas e intelectuais. A narrativa foca em uma fase inicial de carreira, antes de estabelecer um entendimento com a polícia de Gotham – corporação que parece estar quase totalmente envolta em corrupção. Cada episódio destaca um vilão diferente, como Gentleman Ghost e uma Mulher-Gato cujo uniforme remete à primeira versão dela na Era de Ouro. Paralelamente, acompanhamos as jornadas de Harvey Dent até virar o Duas Caras, e a policial Renee Montoya, a defensora pública Barbara Gordon e a psiquiatra Harleen Quinzel, amigas e cujos destinos estão aparentemente entrelaçados.

Para desespero de incels, redpills e frustrados em geral, alguns personagens ganham bem-vinda reinterpretação. O Pinguim, tradicionalmente um vilão masculino, é agora uma mulher. O comissário Gordon e sua filha Barbara são pessoas negras (ele, herança da versão de Jeffrey Wright em The Batman). E Arlequina, livre de qualquer relação com Coringa, é representada com características asiáticas. Essas mudanças promovem maior inclusão e representatividade de acordo com uma megalópole feito Gotham. Alfred, chamado por BruceWay/Batman na maior parte dos episódios, volta a ter um corpo mais robusto conforme sua origem nos gibis. A diferença é que, quando surgiu, não tinha bigode.


Reunindo um timaço de produtores, era natural que as expectativas estivessem lá em cima. Batman: Caped Crusader é uma ótima animação. Mas aquém daquela feita nos anos 90. A comparação é inevitável até porque os primeiros rumores e notícias diziam que esta seria uma continuação direta. Não é. Enquanto Batman: A Série Animada era atemporal, misturando figurinos, cenários e carros dos anos 40 com elementos dos anos 90 e tecnologias futuristas, aqui basicamente vemos uma reprodução da década de 1940. X-Men '97, da concorrente Marvel, atualizou a série animada dos anos 90 dos X-Men melhorando-a em todos os aspectos: roteiro, fluidez, alternância de planos e enquadramentos. É mais sofisticada. Cruzado Encapuzado não é uma evolução em relação à Batman: A Série Animada. Podemos argumentar que Batman: A Série Animada era muito superior a X-Men: A Série Animada, ambas da mesma época. É verdade. A animação da DC estava anos luz à frente do desenho animado dos mutantes e outros feitos naqueles tempos. Mas passados tantos anos, Caped Crusader poderia ser um pouco mais dinâmica. Comparemos, por exemplo, o Homem de Barro nas duas versões. Trinta anos atrás a cena de transformação chocava pela qualidade, o número de frames, detalhes, o drama. Algo inexistente agora.

Ainda assim, o seriado diverte e é capaz de empolgar os fãs do Homem Morcego. Para os brasileiros, a presença do dublador Marcos Seixas é um destaque especial.

Aos 85 anos, Batman ganha mais uma animação bacana que se junta à extensa lista de desenhos iniciada nos anos 60, continuada na década seguinte e que nos brindou ainda com a já super citada Batman: A Série Animada, Batman do Futuro, The Batman, Batman: Os Bravos e Destemidos e Beware The Batman.



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