Crítica | Borderlands é um dos piores filmes do século

Nos anos 80, o sucesso de um grande blockbuster inevitavelmente gerava uma onda de subprodutos de qualidade questionável. Para cada "Star Wars", tínhamos uma infinidade de espaçonaves mal projetadas; para cada "Rambo", um Braddock surgia do nada; e para cada "Indiana Jones", um Allan Quatermain aparecia, como se dissesse: "Eu também posso!" Ah, os anos 80, uma época de glórias VHS, onde filmes de segunda linha eram lançados na TV aberta em horário nobre, com tratamento de grandes eventos. Era uma era de ouro do cinema B, onde até os piores longas tinham certo charme nostálgico.

Agora, avancemos 30 anos para "Borderlands", uma produção que tenta, desesperadamente, capturar essa aura genérica, mas falha miseravelmente em cada passo. Baseado em um videogame (e aqui começa o primeiro erro), "Borderlands" tenta ser uma salada épica, misturando elementos de "Star Wars", "Duna", "Guardiões da Galáxia", "Mad Max" e até "Nikita - Criada Para Matar". O resultado? Uma confusão que nos faz questionar o que, exatamente, estava na mente dos produtores.

Logo de início, a “trama” nos apresenta a um personagem que pode ser o escolhido para salvar o universo, tal qual em "Star Wars" (1977, George Lucas) e "Duna" (2021, Denis Villeneuve). Há um monstro do deserto que surge de maneira quase idêntica àquela da areia em "Duna", só que sem a menor originalidade ou impacto. Se isso não fosse o bastante, o filme traz um grupo de pessoas completamente diferentes que se odeiam inicialmente, mas depois formam uma família desajustada, em um esforço claro para emular o espírito de "Guardiões da Galáxia" (2014, James Gunn).

No meio desse caos, temos uma caçadora de recompensas, Lilith (Cate Blanchett), que inicialmente remete à protagonista de "Nikita - Criada Para Matar" (1990, Luc Besson), mas sem a profundidade ou complexidade da personagem original. E claro,tal qual todo filme que envolve desertos, não poderia faltar o famoso filtro de imagem amarelo. Esse recurso visual, usado de forma exaustiva em "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015, George Miller) e "O Livro de Eli" (2010, Albert Hughes e Allen Hughes), é novamente aplicado aqui, até mesmo nas cenas que parecem emprestadas de "Duna". Além disso, temos uma corrida de carros no deserto que parece ter sido retirada de "Mad Max".

A presença de Avi Arad, um nome associado a "Quarteto Fantástico", "Homem-Aranha", “X-Men” e “Venom”, deveria ser um bom sinal, certo? Infelizmente, não. Nem mesmo um elenco que inclui a brilhante Cate Blanchett e o sempre engraçado Jack Black consegue salvar este desastre. Cate, no papel de Lilith, a caçadora de recompensas intergaláctica, parece estar ciente da piada. Nem isso ajuda. Ela recita falas genéricas com a convicção de alguém que claramente preferia estar em qualquer outro lugar. Aliás, é bom lembrar que Cate filmou "Borderlands" antes de atuar em "Tár" (2022), pelo qual foi indicada ao Oscar. O estúdio deve ter percebido que tinha uma bomba nas mãos e, por isso, demorou tanto para lançá-lo. E Jack Black? Ele dubla um robô que é uma mistura bizarra de C-3PO e R2-D2, porém com a personalidade de um GPS quebrado.

Temos ainda um boteco repleto de espécies alienígenas que parece ter saído de "Star Wars", sem o charme ou a criatividade da cantina de Mos Eisley. Tudo isso é costurado por uma narração em off de Cate Blanchett, aparentemente na tentativa de consertar o roteiro caótico e desorientado.

A história de "Borderlands" se passa em um espaço sideral que parece ter sido projetado por alguém que assistiu a muitos filmes de ficção científica ruins e decidiu unir tudo em um grande balde de clichês. Vemos uma jovem garota com poderes misteriosos (Ariana Greenblatt, a menina de "Barbie") que é mantida em segredo (porque, claro, todo filme precisa de um segredo), uma corporação que controla tudo e que tem soldados cujos capacetes são copiados descaradamente dos Stormtroopers de "Star Wars", e um gigante mascarado interpretado por Florian Munteanu (o filho de Ivan Drago em "Creed II"), que é uma mistura de Jason de "Sexta-Feira 13", com o vilão de "Mad Max 2" e o Bane de "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge". 

Eli Roth, o homem por trás de "O Albergue" e "Cabana do Inferno", teoricamente deveria trazer algo interessante para a mesa, certo? Errado. Rumores sugerem que Roth foi substituído por Tim Miller, o diretor de "Deadpool", o que só adiciona mais caos à produção. É como se os dois estivessem em uma competição para ver quem conseguia fazer o pior trabalho, e o resultado é uma obra que não consegue decidir se quer ser uma comédia, uma aventura espacial ou apenas uma bagunça total. Spoiler: escolheu a última. Há, os personagens parecem disputar quem é o mais chato e insuportável. 

"Borderlands" compete, no pior sentido, para ver qual é o mais desastroso, junto a "Ambulância - Uma Noite de Crime" (2022, Michael Bay), "Rebel Moon" (2023, Zack Snyder), "O Destino de Júpiter" (2015, Lilly e Lana Wachowski), "Cats" (2019, Tom Hooper) e "Os Cavaleiros do Zodíaco - Saint Seiya: O Começo" (2023, Tomasz Baginski). Para tentar dar algum brilho ao elenco, trouxeram até a Gina Gershon, de "Showgirls", que andava sumida. Tadinha. 

 O roteiro (ou o que sobrou dele) parece ter sido escrito por alguém que estava com pressa de terminar antes de o último episódio da sua série favorita começar. Tudo é atropelado, sem razão ou propósito.

"Borderlands" é dos piores filmes deste século - nem o vilão tipo Elon Musk sendo devorado ameniza a tragédia. É um lembrete doloroso de que nem toda nostalgia merece ser revivida. Algumas coisas são melhores quando deixadas no passado, como fitas VHS e filmes de qualidade duvidosa que, ao menos, tinham a desculpa de não conhecerem nada melhor. "Borderlands" não tem essa desculpa e, o resultado, merece ser esquecido o mais rápido possível.

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