Crítica | Estômago 2: O Poderoso Chef - Uma Receita de Humor, Crime e Gastronomia com um Toque de Confusão


A montagem paralela desempenha um papel fundamental em momentos-chave da história cinematográfica, permitindo que duas ou mais ações ocorram simultaneamente, culminando em um clímax poderoso. A trilogia O Poderoso Chefão utilizou essa técnica de forma magistral várias vezes, criando cenas eternizadas e influentes: no final do primeiro e do terceiro filme conecta assassinatos e cerimônias religiosas, levando a um clímax intenso e inesquecível. No segundo, transita entre o passado e o presente, mostrando a evolução de Vito Corleone e a ascensão de seu filho Michael. Coppola, diretor dos três longas, a usa em momentos específicos, alcançando um equilíbrio narrativo.

Estômago 2: O Poderoso Chef, de Marcos Jorge, traz referências escancaradas à saga da Família Corleone, a homenageando em cenas (a cerimônia de ascensão do novo capo quase a portas fechadas),  relações (traição entre irmãos) e… na montagem paralela. De outra obra mafiosa, Os Intocáveis, de Brian De Palma, pega emprestado o jantar em que o chefe da máfia discursa ao redor da mesa até matar um dos subordinados. 


A trama é ambientada 16 anos após a história do primeiro filme. Com talento inigualável para a culinária, Raimundo Nonato, vulgo Alecrim  (João Miguel) conquistou sua posição na cadeia, onde cumpre pena, ao cozinhar para os criminosos de alto escalão. Essa habilidade na cozinha garantiu-lhe o favor do líder dos presidiários, Etcétera (Paulo Miklos), e dos carcereiros, todos admiradores de uma boa refeição. Ele serve o diretor da prisão, que parece saído de um gabinete tucano, e a secretária deste diretor, com quem mantém um affair com direito a sexo bizarro. 

Essa aparente harmonia é ameaçada pela chegada de Don Caroglio (Nicola Siri), notório mafioso italiano que traz consigo planos ambiciosos para tomar o controle da penitenciária. A entrada de Don Caroglio (soletra-se Carolho , quase o palavrão) no cenário prisional desencadeia uma luta feroz pelo poder, jogando Nonato no centro de um conflito perigoso e implacável. 


Enquanto essa história se desenrola, a narrativa é constantemente interrompida por flashbacks que revelam o passado de Don Caroglio, criando uma montagem paralela ao longo de todo o longa. E é aí que Estômago 2: O Poderoso Chef tropeça. Quando utilizada de forma contínua, a montagem paralela, em vez de levar a um clímax unificador, acaba fragmentando a narrativa. O resultado é um filme que parece “dois em um”. O ritmo é prejudicado pela alternância constante entre o presente e o passado. 

Essa estrutura fragmentada diminui nossa conexão com atores carismáticos feito João Miguel e Paulo Miklos, e os italianos Nicola Siri, Violante Plácido e Marisa Laurito. Todos excelentes. 

Estômago 2: O Poderoso Chef faz parte de uma tendência contemporânea de explorar a gastronomia em diferentes contextos, refletindo a popularidade de programas de TV, canais do YouTube e filmes que abordam o tema utilizando gêneros variados. Por exemplo, O Menu (2022) utiliza a culinária para criar um suspense aliado ao terror, enquanto Chef (2014) mistura comédia e drama ao explorar a jornada de um chef que recomeça sua carreira, e o sul-coreano Fome de Sucesso (2023) trata de egos e da competição selvagem no ambiente gastronômico. 

No entanto, a combinação de humor e violência gráfica cria um tom inconsistente em Estômago 2. A coprodução Brasil-Itália parece ter influenciado a divisão da história entre os dois países, resultando em uma obra que, embora tenha momentos inspirados e divertidos, luta para manter uma identidade.

⭐⭐⭐

Postar um comentário

0 Comentários