O Corvo (1994): A Morte de Brandon Lee e o Impacto Duradouro no Cinema Sombrio

 

O Corvo (1994) ficou marcado por uma trágica ironia: Brandon Lee faleceu durante as filmagens, enquanto interpretava o personagem principal. O que era para ser uma bala de festim, na verdade era um projétil de verdade. E o fato gerou diversas especulações sobre o real motivo da morte, somando às teorias sobre o falecimento de seu pai, o lendário Bruce Lee. O longa, portanto, adquire uma dimensão extra de melancolia ao contar a história de um herói que retorna dos mortos. É como se, de certo modo, Brandon Lee também tivesse feito esse retorno através da obra.

A trama é baseada na graphic novel homônima de 1989 criada por James O'Barr. A HQ original foi inspirada pela dor pessoal do autor, após a perda de sua noiva em um acidente de carro. O enredo, que explora temas de vingança e redenção, capturou a atenção dos fãs de quadrinhos pela atmosfera sombria e profunda carga emocional. Na adaptação para as telonas, acompanhamos Eric Draven (Lee), astro do rock brutalmente assassinado junto com a noiva na véspera do casamento. A narrativa revela que, quando um espírito permanece incompleto devido a assuntos pendentes na Terra, um corvo pode devolver essa alma ao mundo dos vivos. Assim, um ano depois, na véspera do Halloween, Eric volta, buscando vingança contra os responsáveis por suas mortes e o chefe maligno que orquestrou o crime.

Embora a premissa - herdeira da franquia Desejo de Matar, estrelada por Charles Bronson e do Justiceiro da Marvel - não seja complexa, o longa utiliza flashbacks para relembrar o assassinato e segue Eric, guiado pelo corvo, em uma jornada por uma cidade chuvosa e sombria. Com maquiagem de caveira e invulnerabilidade à bala, o protagonista enfrenta seus inimigos com certo charme sombrio.


O diretor Alex Proyas e equipe criaram um ambiente visualmente deslumbrante. O cenário evoca uma cidade pós-apocalíptica – misturando miniaturas e efeitos especiais - que lembra o deserto urbano de Blade Runner e o estilo gótico de Batman, mas com um tom mais sombrio e opressivo. Aliás, aqui teríamos uma Gotham City perfeita para um filme do Homem-Morcego. Em meio ao caos, temos momentos de sensibilidade ao acompanharmos a menina que era cuidada por Eric e cuja mãe é usuária de drogas. Quando Eric salva a mãe e ela volta à sobriedade, tenta a reaproximação da filha e a reação da menina, falando como prefere a refeição, é sutil e emocionante. 

Dariusz Wolski, o diretor de fotografia, reforça a estética das histórias em quadrinhos. Com ângulos de câmera extremos e uma iluminação carregada de sombras, o filme parece uma adaptação visual das graphic novels. Ele apresenta uma visão gráfica noir, com personagens que são tão exagerados quanto o cenário, como a vilã Myca (Bai Ling), que possui um visual que remete às ilustrações dos gibis.

Com canções do Cure, Stone Temple Pilots e Nine Inch Nails, a trilha sonora complementa o tom sombrio. Em alguns momentos, o filme pode lembrar um videoclipe violento, com foco em imagens e ação.

A cena em que Brandon Lee foi fatalmente ferido não está presente no corte final, ainda bem. É uma ironia triste que O Corvo só tenha sido um de seus maiores trabalhos, e também possa ser considerado uma realização significativa em comparação com os filmes de seu pai, Bruce Lee.



Ambas as carreiras de Brandon e Bruce Lee pareciam promissoras quando foram interrompidas. Houve discussões sobre a possibilidade de arquivar O Corvo. O bom senso falou mais alto e o longa foi lançado. Assim o legado de Brandon Lee foi preservado em um filme que, mesmo marcado por tragédia, revela seu esforço e dedicação – os brasileiros devem se lembrar de Massacre no Bairro Japonês, com ele e Dolph Lundgren, exibido várias vezes pela Globo e com jeitão de filme B.


A franquia O Corvo gerou diversas continuações, cada uma explorando novas facetas do conceito original e diferentes graus de sucesso. A primeira continuação, O Corvo: A Cidade dos Anjos (The Crow: City of Angels, 1996), dirigida por Tim Pope, apresenta um novo personagem, Ashe Corven, interpretado por Vincent Pérez. Ashe busca vingar a morte de seu filho e é acompanhado por uma trama que se passa em um cenário mais moderno e menos gótico. Embora tenha tentado seguir a atmosfera do original, o filme não conseguiu capturar o mesmo impacto crítico ou comercial.


O Corvo: A Salvação (The Crow: Salvation, 2000), dirigido por Bharat Nalluri, introduz um novo protagonista, Alex Corvis (Eric Mabius). O personagem retorna dos mortos para vingar a morte de sua noiva e limpar seu nome de uma acusação de assassinato. A produção estreou diretamente em vídeo e foi menos elogiada por críticos e fãs, falhando em replicar a singularidade da primeira obra.


O Corvo: Vingança Maldita (The Crow: Wicked Prayer, 2005), de Lance Mungia, é a quarta e última sequência lançada diretamente em vídeo. A trama segue o personagem Jimmy Cuervo, vivido por Edward Furlong, que busca justiça após ser assassinado e retornar dos mortos. Este filme enfrentou críticas severas e foi amplamente considerado o ponto mais baixo da franquia.


Além das sequências, a franquia também gerou uma série de TV, The Crow: Stairway to Heaven, exibida entre 1998 e 1999, que trouxe uma nova abordagem ao universo de O Corvo. O programa apresentava uma trama independente e explorava diferentes aspectos da temática de ressurreição e justiça.

Apesar das variações na qualidade e recepção das continuações e do remake, o impacto do filme original persiste, solidificando O Corvo como uma peça significativa na cultura pop e no cinema de fantasia sombria. E um novo filme chega em 2024...

O Corvo de 2024. 


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