Ouro ou Nada: O Negacionismo Esportivo dos "homens" Pilhados e Perrones


O cenário atual dos Jogos Olímpicos de Paris em 2024 tem revelado uma face cruel das redes sociais no Brasil: uma enxurrada de críticas e deboches direcionados aos atletas que não conseguem medalhas, especialmente aqueles que não conquistam o ouro. A internet tem sido palco de um comportamento que pode ser descrito como "negacionismo esportivo", onde o valor e a dignidade do esforço humano em busca de superação são desconsiderados por uma parcela de indivíduos que parecem não compreender ou respeitar o espírito olímpico.

Esses haters ignoram o significado de conquistas como a prata e o bronze e desdenham de todo o caminho árduo que leva um atleta até uma competição desse porte. Em sua visão limitada e preconceituosa, apenas o ouro tem valor, e qualquer outra colocação é tratada com desdém. Criaram até mesmo a "medalha 'valeu'", uma forma de chacota, menosprezando a dedicação de quem chegou até a França, muitas vezes superando adversidades impensáveis.

Essa postura reflete um padrão maior de comportamento que vai além do esporte. São pessoas que, em outras esferas, negam a ciência, desprezam o trabalho de pesquisadores, cientistas e rejeitam o conhecimento oferecido pelos livros. A internet, que deveria ser ferramenta para a democratização da informação e para o incentivo ao apoio mútuo, tem sido feita de palco por essas pessoas para destilar desprezo por tudo o que exige esforço, estudo e comprometimento.


A perseguição à jogadora Marta nos Jogos Olímpicos de Paris é um exemplo contundente desse comportamento tóxico. Após ser expulsa em uma partida, a maior jogadora da história do futebol feminino volta para a final, mas, em vez de ser celebrada feito a lenda que é, torna-se alvo de uma avalanche de ataques nas redes sociais. Os haters, muitos deles homens brancos, não se conformam em ver uma mulher se destacando em um esporte historicamente dominado por homens. Mesmo que Marta seja uma das responsáveis por ter disseminado o futebol feminino no Brasil, é alvo de piadas e comentários depreciativos. O deboche e a crítica revelam um machismo enraizado, que se intensifica ao ver mulheres brilhando onde muitos homens falharam. Não só no futebol e esses jogos têm sido exemplo disso. 

Enquanto o futebol masculino, com todo prestígio e investimentos milionários, nem sequer conseguiu se classificar para os Jogos Olímpicos – um vexame que incluiu jogadores tipo Endrick, contratado pelo Real Madrid por cifras astronômicas – o futebol feminino segue enfrentando dificuldades, mas continua a se destacar - e Marta mesmo aquém do seu auge é exemplo a ser seguido. O desdém dirigido a ela por parte desses haters é reflexo de um comportamento que Nelson Rodrigues chamou de "complexo de vira-lata", uma síndrome que leva muitos brasileiros a menosprezar suas próprias conquistas, especialmente quando elas desafiam as expectativas e padrões estabelecidos.

A frase de Tom Jobim, "fazer sucesso no Brasil é uma ofensa pessoal", ressoa fortemente nesse contexto. Marta, com todo seu sucesso e legado, é considerada ameaça por esses homens frustrados, que preferem gastar seu tempo destilando ódio na internet, em vez de estudar, trabalhar e se esforçar para melhorar de vida. Muitos deles se identificam como incels e adeptos da ideologia redpill, grupos conhecidos por seu desprezo pelas mulheres e pela meritocracia que tanto dizem defender. Eles preferem viver na mediocridade, criticando aqueles que, feito Marta, Rebeca Andrade, Beatriz Souza, desafiam a ordem que eles acreditam ser imutável.


Esses “homens”, motivados por Pilhados e Perrones, que jamais se destacaram em nada, encontram na internet um espaço para espalhar suas frustrações, atacando quem se sobressai. A história de Marta, sua luta e suas conquistas, representam tudo o que eles jamais conseguirão alcançar, e isso os incomoda profundamente. 

A postura desses néscios ressalta o racismo e o machismo enraizados e uma profunda insegurança. Eles não conseguem suportar a ideia de que uma mulher, ainda mais uma mulher negra, possa se destacar em um campo onde eles, homens brancos, falharam. É uma falha de caráter que, infelizmente, continua a se manifestar em diferentes áreas da sociedade, mas que se torna ainda mais evidente quando figuras como as atletas medalhistas desta edição das Olimpíadas desafiam as expectativas e brilham em um palco global.

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