Crítica | A Garota de Miller: Wandinha e Bilbo Bolseiro protagonizam trama pretensiosa genérica de Lolita

 


Se você esperava que A Garota de Miller navegasse pelas águas profundas da intelectualidade, após tanta polêmica antes de seu lançamento, prepare-se para um mergulho mais raso do que se poderia imaginar. A estreia de Jade Halley Barlett na direção não conseguiu evitar que o filme, disponível no Prime Vídeo, se transformasse em um exemplo perfeito de como a pretensão pode virar fiasco e transformar bons atores em personagens insossos.

Inspirado pelo escritor Henry Miller e seus textos de apelo sexual, o longa tenta explorar a complexa relação entre uma jovem de 18 anos, Cairo Sweet (Jenna Ortega), e o professor de literatura Jonathan Miller (Martin Freeman). O sobrenome em comum entre escritor da vida real e o escritor desta ficção não é por acaso. Afinal, Cairo é apaixonada pelo texto sensual de Henry e sente-se atraída por Jonathan, capaz de “enxergá-la” em meio à vida sem graça numa cidadezinha interiorana. Ela, que acabou de fazer 18 anos, sequer é lembrada pelos pais, sempre em viagem pelo exterior. Ele, é um escritor aparentemente fracassado e casado com uma autora de sucesso (Dagmara Dominczyk), mais preocupada em tratar mal a assistente e diminuí-lo. Completam o núcleo da trama outra jovem, Winnie (Gideon Adlon), amiga da protagonista e que tem interesse por outro professor amigo do protagonista, Bóris (Bashir Salahuddin). Em algum momento ambas vão tentar seduzir os educadores. A relação entre elas, duas garotas, lembra um pouco a de Melanie Lynskey e Kate Winslet em Almas Gêmeas (1994), de Peter Jackson. Sem a mesma complexidade.


Jenna Ortega, no auge do sucesso estrelar a série Wandinha, dois filmes da franquia Pânico e o recente e ótimo Os Fantasmas Ainda se Divertem, tenta brilhar em um papel que poderia ter sido uma joia em sua ascensão no cinema. No entanto, a tentativa do filme de soar profundo e intelectual acaba ofuscando o brilho natural da atriz, deixando-a em um papel que a torna uma Lolita genérica. Martin Freeman tem um dos piores papeis de sua carreira, muito aquém da trilogia O Hobbit ou da série Sherlock. Está longe de ser charmoso, sedutor ou qualquer coisa que nos convença da possibilidade de alguém ter interesse amoroso/sexual nele.  

A Garota de Miller gerou controvérsia devido a uma cena “erótica” entre Ortega e Freeman, que evidencia a diferença de idade entre os dois atores na vida real: ela com 21 e ele com 52. Tanto barulho por nada. Pois nem sexo propriamente dito há na história. Muito falatório, blá, blá, blá, mas nada minimamente sensual. Nem Henry Miller, cujos textos deixaram leitores excitados, intrigados etc., é exposto de uma maneira que faça jus ao seu talento.  

Não há desfecho. Para funcionar, histórias de final aberto precisam ter um miolo interessante e, se possível, genial. O que esta obra está longe de alcançar.

Como alguém astutamente observou no Facebook, o melhor do filme é que eles não transam.  E o pior do filme é que eles não transam. Não vale nem pela curiosidade mórbida.



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