Crítica | O Senhor dos Anéis – A Guerra dos Rohirrim é o melhor filme da Terra-média desde a trilogia original

Entre as expansões da saga O Senhor dos Anéis, O Senhor dos Anéis – A Guerra dos Rohirrim é uma abordagem ousada e surpreendente. Enquanto Hollywood tem optado por revisitar territórios já explorados em franquias, esta animação, situada dois séculos antes da trilogia original, se permite explorar novas narrativas na Terra-média. 

Esta é a sexta adaptação animada baseada na obra de Tolkien, sucedendo The Hobbit (1966), um curta produzido apressadamente para preservar direitos autorais; O Hobbit (1977), uma produção televisiva de Arthur Rankin Jr. e Jules Bass; O Senhor dos Anéis (1978), longa-metragem de Ralph Bakshi que adapta os dois primeiros livros; O Retorno do Rei (1980), outra animação televisiva de Rankin Jr. e Bass; e The Hobbit (1991), uma produção soviética inacabada. Comparado a essas obras, A Guerra dos Rohirrim é claramente a mais sofisticada narrativamente visualmente. 

O filme é, sem dúvida, o melhor produto da franquia desde a trilogia original de Peter Jackson, e isso se deve, em grande parte, à animação de alta qualidade. O estilo visual adota uma abordagem tradicional, mais próxima das técnicas clássicas de animação do que das produções computadorizadas que dominam os estúdios Pixar, Disney e DreamWorks. Influenciado pelo anime, mas não inteiramente dentro desse gênero, A Guerra dos Rohirrim apresenta um nível de detalhes que impressiona, especialmente nos planos abertos. As paisagens alternam entre o realismo impressionante e a beleza de pinturas em movimento, justificando sua exibição nas telonas.

Inspirada na tradição oral, a trama traz Éowyn (Miranda Otto) narrando a história de Héra (Gaia Wise), sua ancestral. Héra, criada com liberdade incomum pelo pai, Helm Mão-de-Martelo (Brian Cox), Rei de Rohan, é uma jovem que desafia as convenções da época. A história se complica quando Freca (Shaun Dooley), um senhor dos Dunlendings, propõe casar Héra com seu filho Wulf (Luke Pasqualino) para fortalecer alianças políticas. Mas Héra, que não tem interesse em casamento, recusa gentilmente. O confronto entre Helm e Freca escala rapidamente, terminando na morte do Dunlending pelas mãos do rei. Esse incidente desencadeia a guerra do título, com Wulf retornando anos depois, à frente de um exército, buscando vingança contra Helm e família.

Temas universais estão presentes: a vaidade e a arrogância masculina e as disputas pessoais que podem devastar vidas inocentes. Paralelamente, A Guerra dos Rohirrim merece elogios pela protagonista feminina. Héra desafia os papéis de gênero ao não querer se casar, optando por buscar liberdade e felicidade em suas aventuras. A abordagem é sutil, sem explicitar a sexualidade da heroína ou transformar sua decisão em um conflito central.

A animação também se destaca ao capturar a essência das mitologias que inspiraram Tolkien: as tradições nórdica, celta e anglo-saxônica. A história flui de forma intuitiva, oferece momentos trágicos e triunfantes que prendem a atenção. Além disso, a riqueza visual da produção contribui para tornar A Guerra dos Rohirrim um espetáculo à altura do legado da Terra-média.

Com sua narrativa envolvente, animação impressionante e protagonismo feminino marcante, O Senhor dos Anéis – A Guerra dos Rohirrim honra e expande o universo de Tolkien. Merece indicações aos prêmios de animação do ano. 

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