Mickey 17 é o mais recente filme do diretor sul-coreano Bong Joon-ho, que virou sensação mundial após vencer quatro Oscars por Parasita - o primeiro longa de língua não inglesa a levar a principal estatueta, melhor filme, além dos prêmios de direção, roteiro e filme internacional. Um feito e, por isso mesmo, a curiosidade sobre sua nova produção.
Ele retorna a temas frequentes de sua filmografia: choque de classes e exploração dos pobres (Expresso do Amanhã e Parasita), além de criaturas ao mesmo tempo grotescas e fofas (Okja e O Hospedeiro). A diferença é que teve o maior orçamento já disponibilizado à sua disposição: 118 milhões de dólares da Warner.
A história é ambientada em futuro próximo, cerca de 30 anos à frente. A humanidade realiza viagens espaciais. Em uma dessas missões de colonização a um planeta distante, um político tosco e hipócrita que ninguém aguenta mais na Terra é “autorizado” a liderar a expedição.
Mickey Barnes (Robert Pattinson) é um homem endividado que aceita trabalhar como “descartável” para fugir de um agiota. Realiza tarefas perigosas que ninguém quer fazer — lembre-se dos imigrantes que ajudam a sustentar, por exemplo, os Estados Unidos, fazendo trabalhos indesejados pelos outros e que Donald Trump quer expulsar do país. Cada vez que morre, o protagonista é reimpresso em uma máquina que cria clones dele. A trama lembra o meme do Robocop: se você está infeliz no trabalho, lembre-se do Robocop, que morreu trabalhando e foi ressuscitado para voltar a trabalhar.
Mickey se envolve com uma colega da nave, Nasha (Naomi Ackie), a Whitney Houston na cinebiografia I Wanna Dance with Somebody.
Em grande parte, temos uma história cinica é divertida: a narrativa dialoga com o cenário político atual e a ascensão de líderes de extrema direita caricatos e populistas: Javier Milei, Jair Bolsonaro, Donald Trump, Benjamin Netanyahu e Viktor Orbán.A sátira lembra Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick, em que Peter Sellers interpretou três papéis, incluindo um lunático inspirado em Hitler. Tudo é meio exagerado, mas é um exagero não tão longe da realidade se vermos as falas e atitudes dos “líderes” políticos da vida real.
É tudo meio Laranja Mecânica (Kubrick novamente), meio Black Mirror e meio… Bong Joon-ho. Já vimos tramas assim. E, no cinema atual, em que nada é novidade, destaca-se quem melhor souber narrar essas histórias. E o cineasta sabe. Entretanto, talvez pela grana fora da curva, ele se alongue desnecessariamente, acumulando conclusões que poderiam ser mais concisas.
Robert Pattinson tem um dos melhores trabalhos de sua carreira. E o elenco traz ainda os impagáveis Toni Collette, na pele de Signe, esposa lunática de Hieronymous Marshall, o vilão interpretado por Mark Ruffalo.
Embora instigante, Mickey 17 não alcança o nível dos melhores trabalhos de Bong Joon-ho. O Hospedeiro segue um dos maiores filmes de monstro já feitos. E Memórias de um Assassino, que reconstrói o primeiro caso verídico de serial killer da Coreia do Sul, ocorrido nos anos 80, é superior a outros longas sobre serial killers, inclusive os elogiados Zodíaco e Seven.
⭐️⭐️⭐️⭐️
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