Em “O Brutalista”, Adrien Brody vive Lasló Toth, arquiteto judeu que, após deixar sua marca com obras impressionantes em Budapeste, se vê obrigado a fugir para os Estados Unidos no pós-guerra. Enquanto esposa e sobrinha ficam para trás, presas em uma Europa que não lhes permite sequer uma saída digna, ele encara o inferno dos desafios do imigrante, lidando até mesmo com um parente que, mudando de nome para se “encaixar” na “América”, ilustra perfeitamente a hipocrisia que permeia essa nova vida.
A narrativa dá um giro quando um empresário bilionário (Guy Pierce) contrata o protagonista para construir um centro cultural em uma cidadezinha qualquer. É nesse instante que o filme nos convida a adentrar o coração da “América” – terra forjada pelo suor e o sangue de estrangeiros, e que, de tempos em tempos, os rejeita feito Donald Trump.
O filme não poupa críticas à falsidade dos ricos e à hipocrisia das famílias tradicionais – aquelas que, apesar de parecerem perfeitamente estruturadas, escondem chagas intensas e fraturas irreparáveis. Em meio a essa crítica social ácida, Brody entrega uma atuação de tirar o fôlego, expondo a dor e a resiliência de um homem que tenta equilibrar a brutalidade do mundo e a esperança de um futuro melhor. Felicity Jones, por sua vez, brilha intensamente ao dar vida à esposa do Lasló, uma personagem que, mesmo limitada pela saúde, exala força e humanidade a cada cena.
O título “O Brutalista” remete diretamente ao brutalismo – estilo arquitetônico caracterizado pelo concreto aparente, formas robustas e estética crua. Essa estética se torna uma poderosa metáfora para a jornada do nosso herói: por fora, a esperança de recomeço; por dentro, as dores e traumas de uma vida marcada pela brutalidade e pelo abandono. Técnicamente, o longa se destaca com uma recriação de época impressionante e uma narrativa que, em suas três horas e meia divididas em duas partes, voa para quem realmente ama o bom cinema.
“O Brutalista” é uma homenagem aos épicos clássicos – aquelas obras de mais de três horas com intervalo, que narravam jornadas de vida e transformações ao longo dos anos, “Assim Caminha a Humanidade”, “… e o Vento Levou”, “A Noviça Rebelde” e tantos outros. E, de forma irônica e cortante, nos faz refletir sobre a construção dos Estados Unidos, uma nação erguida a partir do trabalho quase escravo dos imigrantes, mas que, ironicamente, hoje os renega. O “sonho americano”, tão sedutor à primeira vista, se revela um pesadelo para quem ousa buscar uma nova vida em terras distantes.
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