Por Waldemar Lopes
A 97ª edição do Oscar entrou para a história com a primeira vitória do Brasil por filme internacional, aguardada há décadas, pelo primoroso Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.
Esse feito foi celebrado em todo nosso país, do jeito como nós brasileiros gostamos, como uma vitória na Copa do Mundo!
A cerimônia foi aberta com um vídeo de cenas de filmes homenageando Los Angeles, recentemente vítima de um incêndio devastador, e equivocadamente registrado pela equipe brasileira da TNT como “história do cinema”; a justa homenagem teve continuação mais tarde com a presença do heroico corpo de bombeiros no palco, com uma pitada de bom humor no final.
O host Conan O’Brien fez uma apresentação com aquele seu humor sem graça, incluindo uma piada desnecessária em cima de Ainda Estou Aqui. Só valeu a abertura usando cenas de A Substância, com imagens da bela Demi Moore na plateia, acenando para uma vitória para a atriz que não veio.
As vitórias seguiram de perto as últimas previsões: Kieran Culkin e Zoe Saldaña passaram o rodo em todos os prêmios para coadjuvante da temporada, ele foi o único Oscar para A Verdadeira Dor, e Zoe, o primeiro para Emilia Pérez, que acabou também levando um segundo, para a canção nada memorável, El Mal.
Duna 2 previsivelmente ganhou dois Oscars consecutivos, para som e efeitos visuais; Wicked levou dois, desenho de produção e um histórico, vestuário, o primeiro para um designer negro na história, Paul Tazewell. Flow, uma adorável animação, ganhou merecidamente o primeiro Oscar para a Letônia, como o sem graça do anfitrião quis destacar.
Enquanto o ótimo Conclave só ficou com o Oscar de roteiro adaptado, O Brutalista, que era o favorito para filme, venceu em ator – o segundo para o excelente Adrien Brody (com um discurso interminável), score e pela bela cinematografia.
O grande vencedor da noite foi o interessante e criativo, mas sem a envergadura para um Oscar, Anora. O longa vinha em ascensão nas pesquisas e deu quatro prêmios para Sean Baker: roteiro original, edição, direção e filme; surpreendentemente, Mikey Madison arrancou o Oscar das mãos da favorita Demi Moore, que apareceu atônita numa fração de segundos. A nossa Fernanda Torres, com seu trabalho sóbrio, contido, digno, de nuances, bem que poderia ter ficado com ele.
A cerimônia teve pontos altos e baixos, como sempre. Arrasou com o número de abertura com Cynthia Erivó e Ariana Grande e as canções icônicas de O Mágico de Oz, The Whiz e Wicked, mas se estendeu num tolo número musical com O”Brian, e para que um número longuíssimo – mesmo com três ótimas cantoras – para novamente homenagear 62 anos de James Bond, recentemente lembrado pelos 60? Pelo menos a academia acertou com o In Memoriam, começando e terminando com o icônico Gene Hackman. Também houve os comentários políticos como de costume: Ucrânia (por Daryl Hannah), anti-Trump aqui e ali, e pelos premiados diretores do documentário No Other Land (Israel, Palestina, EUA). No entra e sai de apresentadores, foi chocante ver as plásticas deformantes de Goldie Hawn e Meg Ryan, que surgiu ao lado do ex-apresentador do Oscar, Billy Crystal, que deixou saudades. Os dois estrelaram o delicioso Harry & Sally.
Em suma, o que vai ficar na lembrança para nós é a vitória de Ainda Estou Aqui como filme Internacional, e também suas duas outras formidáveis indicações para filme e atriz. Fernanda Torres nunca foi mais celebrada do que nesse seu momento de apogeu no Oscar! Ah, e não precisamos mais ficar com inveja a Argentina.
0 Comentários